quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Vida

Pintava os cabelos para mudar a cor
Hoje eu os pinto para disfarçar sua ausência...
Era menina rebelde. Daquelas que não se doma fácil, só depois de umas palmadas.
Dizia que ia para lá e ia acolá. A caderneta mais vermelha que tomate.
O uniforme mais terra que branco. Ah, com detalhes amora do pé que depenávamos no terreno baldio atrás da escola.
Os dedos tortos dos jogos de handball. A unha do anelar especialmente comprida e lixada para esses dias. Hehe.
Minha mãe contava que no meu nascimento, sairia da sala de cirurgia ou eu ou ela. Sempre teimosa, decidi que dali sairia eu E ela. Eu havia acabado de chegar, como assim queriam que eu fosse embora? Fiquei oito meses na barriga, pois mais 30 dias seria um porre ficar parada e queriam que eu já me despedisse sem estréia? Fala sério!
Sempre fui de sair do bolo, meio vedete, meio atriz e absolutamente maluquete.
Menina arretada, como dizia a Guga que, desesperada prometia me dar para os ciganos se não me comportasse. E não é que eu gostava da idéia?
Destemida, curiosa, perspicaz. Por conhecimento, totalmente voraz.
Perguntas mil e uma cabecinha cheia de idéias. Sardenta enferrujada, com cabelos cor de salsicha. Pirralha que não crescia, com as perninhas finas que dava dó e as manchas de mercúrio cromo nos joelhos, cotovelos e testa.
Garota mimada pela avó. Comidas árabes quase todo dia no verão e todos os chamegos mesmo nas horas que aprontava.
Encrenqueira. Daquelas que dava surra até nos meninos mesmo que fossem bem mais altos que eu.
Desde cedo sabia que dava trabalho, mas fazer o que? It´s my nature.
A fase punk foi a melhor. Cabelos curtos e franja no queixo, descolorida para contrastar. Chorona até em propaganda. Defensora dos fracos e oprimidos. Meio Mulher Maravilha de cachos.
Olhos de coruja. Imensos e curiosos a tudo e a todos.
Aluna ruim. Só para as aulas necessárias ou consideradas tal.
Distraída pacas. Daquelas que saía dando as mãos para qualquer adulto, mesmo que estranhasse temperatura e formato. Me perdi uma vez na rodoviária do Rio de Janeiro quando esperávamos meu avô vir de Campinas nos visitar. Minha mãe quase teve um troço.
Eu? Tudo era muito volátil. Para que tudo aquilo? Nem sei por que apanhava tanto... nem sei por que ficava tanto tempo de castigo...!!? Seria pelas mentiras de moleca ou as safadezas de criança?
Adolescente irrequieta. Não tinha consolo ou sossego e também não os dava a ninguém. Arrastava todos comigo nas aventuras que maquiavelicamente bolava.
A vida me ensinou tanto e a ela eu devo tanto.
Por ter sido assim e por ser ainda em muitos aspectos assim, pude trilhar todo esse caminho maravilhoso que hoje completa 38 anos.
Caminho esquisito, sem mapa ou bússola nem tampouco GPS. Como uma bolinha de fliperama tentava minha melhor pontuação jogando comigo. Acertando e errando, mas sobretudo vivendo e aprendendo no sentido puro e inocente da vida.