sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

A mãe distraída

São 6h da manhã.
O relógio toca e a mãe desperta para um novo dia.
A correria começa. Acorda os filhos, prepara o café da manhã, confere a mochila e lembra a agenda do dia das crianças. A dela ficará para depois que saírem rumo ao Colégio.
Ajeita aqui, confere lá. Ops, hoje é quarta-feira, dia de piscina na escola. Ela abre as cortinas da varanda, checa o tempo e decide em questão de segundos se o pequeno de 5 anos, vai ou não participar da tão esperada atividade aquática.
Decide que vai sim, afinal, ele está esperando há meses.
A empregada é nova e ela sai à caça das toalhas do pequeno. Não acha. Corre no quarto dela, e encontra depois de abrir 5 gavetas e 4 portas de armário, as benditas enroladas.
Seleciona a que ainda tem o nome do garoto marcado, afinal, na escola, acaba virando tudo festa mesmo. Pega a bóia, o boné, a sunga e os chinelos. Fecha a mochila.
Enquanto isso, o garoto toma o leite, volta para o banheiro, escova os dentes e com a boca ainda vertendo pasta, pergunta à mãe se ele vai à piscina e se sim, se ela pegou o protetor. Vixe! Esqueceu o protetor. A mãe corre para o quarto, procura na coleção de protetores solares, o de maior fator de proteção (50) e distraída, corre em direção à mala do garoto, abre o zíper, soca o protetor lá dentro, fecha o zíper, beija o garoto e os despacha.
Ufa!
Seu dia então começa. Telefone, e-mails para responder, etc...
À tarde, o garoto já em casa, passa pelo corredor com um tubo estranho nas mãos.
A mãe reconhece tal artefato e pede para que ele não mexa e que devolva imediatamente onde tirou.
O garoto, sem entender nada, olha para a mãe e diz: “estava na minha bolsa de piscina”.
Pronto. O filme vem à mente. A mãe levanta, vai em busca da agenda do garoto e lê o bilhete da professora: “querida Cláudia, o William veio sem protetor para a piscina. Favor incluir na bolsa para a próxima sexta. Estamos devolvendo o creme Veet (depilatório) que acreditamos ter vindo por engano. Atenciosamente, professora Kátia.”
Preciso dizer mais alguma coisa e preciso justificar por que estou desesperada por férias?
Abraços,
Claudia. A mãe distraída.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Vida

Pintava os cabelos para mudar a cor
Hoje eu os pinto para disfarçar sua ausência...
Era menina rebelde. Daquelas que não se doma fácil, só depois de umas palmadas.
Dizia que ia para lá e ia acolá. A caderneta mais vermelha que tomate.
O uniforme mais terra que branco. Ah, com detalhes amora do pé que depenávamos no terreno baldio atrás da escola.
Os dedos tortos dos jogos de handball. A unha do anelar especialmente comprida e lixada para esses dias. Hehe.
Minha mãe contava que no meu nascimento, sairia da sala de cirurgia ou eu ou ela. Sempre teimosa, decidi que dali sairia eu E ela. Eu havia acabado de chegar, como assim queriam que eu fosse embora? Fiquei oito meses na barriga, pois mais 30 dias seria um porre ficar parada e queriam que eu já me despedisse sem estréia? Fala sério!
Sempre fui de sair do bolo, meio vedete, meio atriz e absolutamente maluquete.
Menina arretada, como dizia a Guga que, desesperada prometia me dar para os ciganos se não me comportasse. E não é que eu gostava da idéia?
Destemida, curiosa, perspicaz. Por conhecimento, totalmente voraz.
Perguntas mil e uma cabecinha cheia de idéias. Sardenta enferrujada, com cabelos cor de salsicha. Pirralha que não crescia, com as perninhas finas que dava dó e as manchas de mercúrio cromo nos joelhos, cotovelos e testa.
Garota mimada pela avó. Comidas árabes quase todo dia no verão e todos os chamegos mesmo nas horas que aprontava.
Encrenqueira. Daquelas que dava surra até nos meninos mesmo que fossem bem mais altos que eu.
Desde cedo sabia que dava trabalho, mas fazer o que? It´s my nature.
A fase punk foi a melhor. Cabelos curtos e franja no queixo, descolorida para contrastar. Chorona até em propaganda. Defensora dos fracos e oprimidos. Meio Mulher Maravilha de cachos.
Olhos de coruja. Imensos e curiosos a tudo e a todos.
Aluna ruim. Só para as aulas necessárias ou consideradas tal.
Distraída pacas. Daquelas que saía dando as mãos para qualquer adulto, mesmo que estranhasse temperatura e formato. Me perdi uma vez na rodoviária do Rio de Janeiro quando esperávamos meu avô vir de Campinas nos visitar. Minha mãe quase teve um troço.
Eu? Tudo era muito volátil. Para que tudo aquilo? Nem sei por que apanhava tanto... nem sei por que ficava tanto tempo de castigo...!!? Seria pelas mentiras de moleca ou as safadezas de criança?
Adolescente irrequieta. Não tinha consolo ou sossego e também não os dava a ninguém. Arrastava todos comigo nas aventuras que maquiavelicamente bolava.
A vida me ensinou tanto e a ela eu devo tanto.
Por ter sido assim e por ser ainda em muitos aspectos assim, pude trilhar todo esse caminho maravilhoso que hoje completa 38 anos.
Caminho esquisito, sem mapa ou bússola nem tampouco GPS. Como uma bolinha de fliperama tentava minha melhor pontuação jogando comigo. Acertando e errando, mas sobretudo vivendo e aprendendo no sentido puro e inocente da vida.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

A Traição

A exemplo de minha mãe, sempre fui uma pessoa de coração aberto.
Até demais, confesso. Procuro confiar e acreditar em pessoas e até em animais.
Não creio que apegar-me a coisas e bens seja de alguma valia. Elas fazem parte, mas em absoluto devem ser postos em primeiro plano. Talvez por isso tenha sido descuidada. Tenha fornecido a ocasião para o ladrão.
Fui traída. Para mim, tão triste dor que mal posso encarar. Quem confiava levou minhas memórias. Uma pequena parte da história de minha vida.
Bens materiais, decerto, mas no meio deles havia um, absolutamente sem preço. Um pequeno aro de ouro, riscado e amassado pela ação do tempo e do trabalho árduo que ele desempenhou nessa vida. Um símbolo de uma união de 25 anos.
Hoje meu sorriso está guardado no lugar daquilo que levaram. Não pelos bens, mas pelo que eles representavam. Pequenas recordações daqueles que se foram.
Que sentimento triste.
Faz-se Boletim de Ocorrência, lembra-se, descontrola-se e chora-se muito. Pela humilhação, pelo medo e desconforto sem antecedentes a que somos submetidos, mas sobretudo pela traição.
O investigador me oferece um copo d´água. Um gesto incrivelmente humano ao verificar meu estado.
De tudo o que me levaram, pedi aos Deuses que me ajudassem a resgatar apenas aquele anel.
Aquele surrado, batido e riscado. Aquele que carrega o nome de minha avó. A aliança de meu avô.
E assim vão minando meu melhor. Ofuscando o brilho de minha pedra. Fechando aos poucos meu coração aberto. O medo se instala.
Abro um arquivo, escrevo um pouco. Desabafo com o papel.
Então as memórias voltam e constatar tamanha ingratidão corta fundo a carne já frágil pelas pancadas da vida.
É Claudia, lá se vai mais um golpe enquanto, cambaleante, tenta permanecer de pé para manter as aparências, por causa das crianças ou por você mesma. Para fingir lá no fundo que nada disso está acontecendo. Típico.
Hoje não conto alegrias ou peripécias das crianças.
Hoje sinto a traição.
Aos poucos, bem devagar, essa tristeza vai embora, ou não...

terça-feira, 21 de julho de 2009

Abraço



O que dizer dele?
Deixe-me ver...O mais poderoso gesto?
Para mim, mais forte que o beijo ou o toque.
A união de corações.
Vamos combinar, preciso dele como do ar. Uma energia vital.
Adoro abraçar, apertar. Acredito ser uma entrega total. Não o abraço sonso. O abraço ritual, aquele que ‘arrocha’ e faz perder o fôlego, aquele que demonstra a saudade da ausência prolongada, do afeto sentido, da amizade adquirida.
O abraço dos amigos fraternos, dos amantes eternos, dos pais e mães.
Aquele que revela desejos ocultos, acalma os corações aflitos ou desperta paixões.
Quando falo que nasci em época errada, amigos riem...acho que a música escolhida para este post denote exatamente e me denuncie...
Abraço tudo e todos, desde o travesseiro até meus filhos. Abraço a mim mesma quando a solidão exige. Um abraço!
Veja o que diz nosso amigo Alberto De Melo Petrocchi:
‘’ Estando em outro país e tendo acesso a informações sobre as principais características do seu povo, pude sabê-lo "individualista".
O conhecimento dessa particularidade deixou-me curioso a respeito dos motivos que estão levando as pessoas a isolarem-se umas das outras, além das conseqüências de tal atitude.
A ascendência do ter sobre o ser, a quase que obrigatoriedade de sobressair-se pela aparência, a importância de um grande saldo bancário, o automóvel último tipo e a roupa da moda fazem com que as pessoas vivam na sua redoma particular, presas apenas das suas vontades e das suas aspirações.
Pode parecer incrível, mas até nas danças modernas as pessoas se isolam. É extremamente difícil vermos pares dançando abraçados. Tornou-se, como diriam alguns, meio "démodé", quadrado. A intimidade gerada por um abraço, mais do que ser sensual ou sexual, transmite conforto, segurança, afeto, carinho, respeito. Preenche as necessidades de quem é abraçado e permite, a quem teve a iniciativa do gesto, demonstrar ser capaz de transmitir sua generosidade.
Desde que descarregado de outras intenções, o simples enlaçar com os braços é uma atitude poderosa. Transmite-se, através dele, inclusive o respeito para com a outra pessoa. Tomemos, como exemplo, a forma de apresentar sentimentos a quem passa pelo difícil momento da perda de um ser querido.
Quaisquer que sejam as palavras escolhidas para confortar essa pessoa poderão ser, no mínimo, inócuas, sem o verdadeiro sentido do que deveriam exprimir. Já o abraço forte demonstra o apoio, o conforto e a segurança oferecidos. Aquele que é abraçado pode confiar na força que lhe é transmitida, a confiança que lhe está sendo destinada.
Quando estamos nos sentindo sozinhos, meio que tristes ou com o horizonte fora de foco, um abraço é o melhor dos remédios. Faz-nos sentir queridos, alvos da atenção que necessitamos.
As palavras, nessas horas, talvez não signifiquem muito. O poderoso afeto que nos é destinado tem a força de erguer-nos do fosso e parece muito grande, maior do que a mais alta montanha. O ombro que nos recebe é sempre capaz de nos animar, de nos trazer de volta aos bons momentos da vida.
As crianças, por exemplo, na sua natural dificuldade para se expressarem através de palavras, demonstram todo o seu carinho com longos e apertados abraços. Chegam a ranger os dentes com a finalidade de nos mostrar a força do seu sentimento. É uma das mais reais provas de sentimento puro, de vontade de gritar sua demonstração de carinho.
Abraços de boas-vindas podem ser a prova de que a sua falta foi realmente sentida. Parecem querer dizer que o seu lugar, durante a sua ausência, foi ferrenhamente guardado. Quem permaneceu aguardando o seu regresso, qualquer que tenha sido o motivo da sua ida, precisava de você ao lado, tendo compreendido bem o motivo que o tenha privado da sua presença.
Está verdadeiramente feliz com a sua volta. Ah!, e os abraços de amor... Não existe quem a eles resista. Conseguem dizer o que as palavras jamais conseguiriam. Nem os olhos abertos se lhes resistem.
Vencidos, semicerram-se. A gana (a boa gana) se transforma em dedos crispados. Os rostos parecem querer invadir um ao outro.
Acontece uma verdadeira fusão de corpos e almas. É uma das mais expressivas formas de demonstração de amor.
Dois seres que se amam se completam nesses momentos. É o céu e a terra juntos. Existe, ali, a prova da divindade nos seres humanos, a sublime parte de ambos. Assim é que, diante do que consegui dizer, gosto de continuar com os meus princípios de integração/interação. Preciso de outro(s) ser(es) humano(s) ao meu lado. Para abraçar e/ou ser abraçado... ‘’

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Maior Tortura

Na vida, para mim, não há deleite.
Ando a chorar convulsa noite,
E não tenho nem sombra em que me acoite,
E não tenho uma pedra em que me deite!

Ah! Toda eu sou sombras, sou espaços!
Perco-me em mim na dor de ter vivido!
E não tenho a doçura duns abraços
Que me façam sorrir de ter nascido!

Sou como tu um cardo desprezado
A urze que se pisa sob os pés,
Sou como tu um riso desgraçado!

Mas a minha Tortura inda é maior:
Não ser poeta assim como tu és
Para concretizar a minha Dor!

Florbela Espanca - Trocando olhares

Cegueira Bendita

Ando perdida nestes sonhos verdes
De ter nascido e não saber quem sou,
Ando ceguinha a tatear paredes
E nem ao menos sei quem me cegou!

Não vejo nada, tudo é morto e vago…
E a minha alma cega, ao abandono
Faz-me lembrar o nenúfar dum lago
´Stendendo as asas brancas cor do sonho…

Ter dentro d´alma na luz de todo o mundo
E não ver nada nesse mar sem fundo,
Poetas meus irmãos, que triste sorte!…

E chamam-nos a nós Iluminados!
Pobres cegos sem culpas, sem pecados,
A sofrer pelos outros té à morte!

Florbela Espanca - Trocando olhares - 24/04/1917

terça-feira, 26 de maio de 2009

Maria Bethânia canta "Eu que não sei quase nada do mar"

Santa Sara Kali - Padroeira dos Ciganos

Não preciso de um dia para me lembrar de Ti.
Isso o faço todos os dias.
Obrigada minha Mãe.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

21.05.2009



Então chegou mais um aniversário.
Onze anos. Parece que foi ontem que te tocava pelos buracos da incubadora.
Parece que foi ontem que acordava no meio da noite para lhe dar a mamadeira, trocar suas fraldas, ninar e acalentar você.
Parece que foi ontem que te enrolava em mantas cor-de-rosa e te aninhava em meus braços, protegendo-a dos ventos de outono.
A fustigante passagem das horas. O correr voraz do tempo.
Então cresceu. Já é quase uma mulher, mas ainda posso detê-la em meus braços.
Ainda tenho as lembranças de você pequena. Cresceu depressa demais.
Nossas brincadeiras, a conversa séria na Praia do Curral em Ilhabela, as lágrimas, o riso, o amor incondicional.
Está tudo tão gravado em minha alma, querida. Não cabe mais no peito todos esses anos de amor.
Bendito seja o dia em que entrou em minha vida, transformando-me completamente. Dando-me rumo, um norte, como uma linda rosa dos ventos. Os ventos de outono...
É impossível expressar com palavras e mesmo com gestos, todo amor que sinto.
Espero que entenda essa minha imensa frustração de não poder fazê-lo.
Muito poderia dizer ou escrever, até mesmo demonstrar, mas nada corresponderia fielmente ao que sinto.
Talvez uma música em suas escalas vibracionais o possa. Talvez não.
Obrigada, minha querida. Obrigada por ser meu presente todos os dias. Obrigada por seus abraços e beijos. Obrigada pelo ar que você respira. Obrigada por me confiar sua vida.
Feliz aniversário minha luz.
Que os Deuses que me confiaram você, possam sempre lhe guiar os passos por mais muitos anos de existência.
Te amo. Mais do que posso.
Mamãe.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Hoje acordei Fernando...



"Escrevo, triste, no quarto quieto, sozinho como sempre
tenho sido, sozinho como sempre serei. E penso se, a minha
voz, aparentemente tão pouca coisa, não encarna a substância
de milhares de vozes, a fome de dizerem-se de milhares
de vidas, a paciência de milhões de almas submissas como a
minha no destino quotidiano ao sonho inútil, à esperança sem vestígios. Nestes momentos meu coração pulsa mais
alto por minha consciência dele. Vivo mais porque vivo
maior. Sinto na minha pessoa uma força religiosa, uma espécie de oração, uma semelhança de clamor. Mas a reação contra
mim desce-me da inteligência... Vejo-me no quarto andar
alto da Rua dos Douradores, sinto-me com sono; olho,
sobre o papel meio escrito, a vida vã sem beleza e o cigarro
barato [...] sobre o mata-borrão velho. Aqui eu, neste quarto
andar, a interpelar a vida! a dizer o que as almas sentem!
afazer prosa [...]"...
Fernando Pessoa

terça-feira, 12 de maio de 2009

Estúpida cegueira.



Maldita hora em que pintei os cabelos.
Parece ter impedido minha visão linear.
Como pude ser tão tola e não notar? Como pude não perceber?
O que há de errado comigo ou consigo?
Que turbilhão de problemas entrei sem querer e não consigo fugir?
Do olhar furtivo, do ombro amigo, a quem pretendia enganar?
Que poder é esse de arrancar-me do assento,
corroer-me por dentro
Até eu sangrar?
Que tortura voraz que me corrói a alma
Enche-me de culpa e medo
Cala quando quero que respondas
E grita quando quero que cales.
Sufoco meus anseios
Aniquilo minha ansiedade
Mas por dentro sou assim
Eterna e imutável saudade
Do tempo em que ficamos juntos
Quero e não quero
Posso e não posso
Esse vai-e-vem me consome e me entristece
Não posso mais ter dezesseis, nem tampouco dezessete
Cresci e embora me agarre às paredes do tempo
O implacável relógio já registrou as horas
Já desperdiçou minha vida
Posso desejar o fim?
Posso pedir para que tudo isso pare?
Mesmo que possa, não sei se quero
Assusto-me com meus pensamentos
E cubro a cabeça com o cobertor
Mas então me lembro do cheiro e do calor
Lembro do abraço e da cor
Entristeço-me e calo
A voz do que poderia ser do amor

Quando adormeço...

Sinto-me distante de casa, embora saiba que essa distância seja absolutamente relativa.
Ouço as vozes, os cantos, sinto o cheiro da floresta e o gelar das brumas em meu rosto.
Caminho com pés descalços sobre a relva úmida. Sinto-me poderosa, mas dentro deste universo. Fora dele tudo é saudade e uma vontade imensa de retornar.
O tilintar dos metais, o frescor e a pureza das águas do poço sagrado, o perfume dos pães e das maçãs.
A viagem eterna ao centro de si mesmo. A introspecção. O silencio da Grande Mãe a aquietar o coração.
A doce brisa do outono. O entardecer em meio às fogueiras que o tempo apagou.
Esse desejo imenso de voltar para casa vem todas as noites, quando me aninho ao travesseiro imaginando estar em um abençoado colo de mãe. A Grande Mãe.
Um retornar ao útero onde nenhum mundo pode me alcançar ou ver.
Sublime irradiar de energias e amor, o verdadeiro lar dos homens.
Amanheço e acordo uma figura que A representa. Carrego esta missão e assim concordei em fazê-lo, mas sinto saudades.
Saudades de meu irmão, Enã. Saudades do mundo que tínhamos e dos amores que vivíamos.
Angus aponta sua espada e me mostra o caminho, mas hoje não posso mais seguí-lo.
Prometeste-me nossa história. Muito pelo que lembro, muito pelo que me prometeras contar.
Encontro pessoas que me ajudarão a percorrer essa estrada para casa novamente, mas o medo bate.
O medo das responsabilidades que assumi, das pequenas almas que devo conduzir, do meu legado à Victoria que devo deixar, embora saiba que William o agarrará com mais força e amor que a Vivi.
Então, mais uma noite, adormeço...

Loreena McKennitt- The Mystic's Dream

sábado, 25 de abril de 2009

Carta para mim aos 9 anos

Eu queria te dizer que a vida nem sempre será feliz.
Quero te dizer que às vezes o mundo será cruel. Você vai ter medo, ficará insegura, mas acredite, querida, tudo passa e você sempre terá pessoas maravilhosas ao seu lado para te amparar e te dar força para um recomeço.
Você vai crescer, vai se formar e prosperar, acredite.
Nem pense em cabular aquela aula ou deixar de estudar matemática. Você vai precisar de cada minuto de aprendizado para o futuro que te espera.
Capriche na letra e leia bons livros. Tome pouco sol ou quando você tiver a minha idade, terá tantas sardas no rosto que mal poderão ver qual é cor da sua pele.
Não coma muito doce. Aliás, nem goste deles. Não tome refrigerante ou seu bumbum terá marcas como um sofá capitone aos 20 anos.
Cuidado com tombos de bicicleta e com vidros quebrados. Terá cicatrizes feias por causa destes dois itens.
Apaixone-se mais. Não tenha medo de sofrer. A vida é assim e tudo faz parte de uma grande lição.
Cuidado com as pessoas que você condena atitudes. Confie em seu coração e afaste-se delas.
Confie em seus pais. Por mais que isso possa parecer loucura. Não deixe que o tempo a convença disso de uma forma dolorosa.
Divida seus problemas. Não os tente resolver sempre sozinha. Por vezes, precisamos de conselhos.
Não critique ou julgue demais suas atitudes. Você poderia ter feito diferente, mas não fez. Console-se. Talvez você no fundo, tenha acertado.
Seja sempre você. Não se compare com os outros. Você é um universo e é única em sua existência e muito especial por isso.
Será muito amada. Terá dois filhos lindos e perfeitos que os Deuses confiarão a criação.
Ensine a eles as mesmas coisas que seus pais o fizeram. É o caminho mais certo, pois quando eles crescerem, você saberá que não enveredaram.
Seja paciente. Não se irrite tão fácil ou quando tiver 35, terá de extrair a vesícula.
Demonstre sentimentos. Quem está ao seu lado, precisará muito disso.
Não se preocupe com quem partir. A saudade vai acontecer e o choro virá, mas será um espaço de tempo curto demais para um próspero reencontro.
Nunca esqueça quem foi nem de onde você veio.
Preserve suas origens e sua família.

Feliz Aniversário minha querida.



















assoprando a vela de meus nove anos.
12.11.1990 Botucatu-SP

terça-feira, 14 de abril de 2009

A Páscoa

Para os cristãos, momento de renascimento. Para mim, feliz coincidência de fatos marcantes.
Na páscoa de 1989 ganhei de meus pais o primeiro carro. Um gol quadradinho verde-pus (ai que horror esta comparação). A liberdade de poder guiar um carro era uma incrível sensação. Minha irmã ia e eu voltava dirigindo. Como receosa do bendito volante, nem sempre essa foi a regra. Por vezes ela ia e voltava.
Nossos passeios? Coisa de irmã. Gastávamos desnecessariamente gasolina, rodávamos pelos Jardins e acabávamos parando na Swensen's tomar sorvete todo domingo à tarde.
O meu era o de sempre: chocolate, malte e marshmallow. Que delícia. Pena que conto os quilos extras ganhos nessa fase até hoje.
Tardes preguiçosas de verão. Gente bonita na porta da sorveteria. Uma delícia.
Nosso carro era o nosso mundo e nos divertíamos demais. Perdíamos-nos, paquerávamos, vivíamos todo o poder da juventude sobre quatro rodas.
Páscoa de 2009. Vinte anos depois. Isso mesmo, 20 anos depois, ganho meu primeiro apartamento. Acho que meu pai nem se lembra disso. Vai lembrar quando ler este texto (rs).
Uma feliz e indescritível coincidência.
Meu coelhinho na verdade é um coelhão de 1,75 mais ou menos, lindos olhos verdes e charmosos cabelos brancos.
É. Talvez a vida seja apenas uma série de fatores e coincidências incríveis. Uma sucessão de fatos marcantes e momentos de emoção.
Talvez, se eu puder descrevê-la a um ET, seja esta expressão usada para melhor fazê-lo.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

dalida-Helwa ya baladi

Manoela

Aguardava na sala, ansiosa pelo encontro.
Enfim conheceria um espírito.
Nunca antes vi ou presenciara tal manifestação.
A porta do quarto se abriu, chamaram-me e eu entrei.
Uma luz suave e um perfume doce emanavam de uma moça sentada em uma cadeira, toda recolhida e com um lenço vermelho nos cabelos. Alguns colares e um sorriso tão radiante que o quarto parecera de repente iluminar-se por completo.
Ela me saúda e se apresenta: Manoela.
Eu nunca mais fui a mesma.
Fevereiro de 1996 e por sete anos mais pude conhecer os passos, e principalmente aprender com essa doce mulher. Uma verdadeira Mãe.
A emoção e a vibração tão fortes que as lágrimas eram inevitáveis.
Lembro-me que sempre pedia meu sorriso e nunca minhas lágrimas, mas como boa filha de Oxum, não resistia.
Ainda sinto sua presença. Acredito que ela jamais tenha partido, apenas espera que aquietemos o coração para ouvi-la, pois está sempre perto a nos irradiar amor.
Como sou privilegiada por conhecê-la, por tê-la podido ouvir.
Agora mesmo, enquanto escrevo lembro de suas palavras, choro e sinto saudades.
Que posso fazer? Consigo tudo, vê-la em sonhos, ouvi-la quando me aquieto, mas ainda assim quero o abraço.
Quem a abraça jamais permanece o mesmo.
Converte-se em um ser portador de luz que ela, generosamente reparte. Torna-se mais humano, perdoa mais, ama mais, concede mais.
Obrigada por fazer parte de minha vida.
Yah habibit albi maik (minha querida, meu coração está com você)

terça-feira, 31 de março de 2009

May it be



May it be an evening star
Shines down upon you
May it be when darkness falls
Your heart will be true
You walk a lonely road
Oh, how far you are from home

Mornië utulië (Darkness has come)
Believe and you will find your way
Mornië alantië (Darkness has fallen)
A promise lives within you now

May it be the shadows call
Will fly away
May it be your journey on
To light the day
When the night is overcome
You may rise to find the sun

Mornië utulië (Darkness has come)
Believe and you will find your way
Mornië alantië (Darkness has fallen)
A promise lives within you now

A promise lives within you now

O Estudo

Lembro-me criança ouvindo aquela voz cálida e humana, com recheio de paciência e carinho infinitos, repetir milhões de vezes a mesma coisa de formas diferentes com o objetivo herculíneo de me fazer compreender o conteúdo da matéria da prova.
Lembro da lâmpada forte do lustre da sala. A mesa bagunçada com todo o conteúdo e aquele homem incrível a persistir na árdua tarefa de eliminar minha ignorância e me ceder um pouco sua infinita sabedoria.
O vento soprou. As folhas voaram e os estudos tiveram fim. Com muito custo os concluí com louvor apesar dos imensos tropeços e desacertos.
Me formei, cursei MBA e pretendo seguir ainda mais além nesse caminho que esse grandioso homem, ou devo revelar que é meu pai, me ensinou a trilhar.
O caminho do conhecimento acima de qualquer coisa.
Este final de semana, foi a vez da Vivi beber dessa fonte.
Horas e horas ambos ficaram ali, sentados na mesma posição da mesa da sala de jantar, depois na mesa da cozinha, no escritório até tarde da noite, quando enfim o cansaço tomou conta de ambos.
Ele leu o livro para ela. O mesmo livro que ela há dois meses atrás deveria ter lido sozinha, mas não gosta.
A matéria na ponta da língua, ciências. Lembrei-me dos gestos, do som da voz, do tempo, da posição dos astros e o caminho do sol.
Ele descrevia tão bem cada posição, que o Universo nunca foi mistério para mim. Sempre pude visualizar com riqueza de detalhes cada estrela, constelação, planeta e galáxia.
Via o que nenhum astrônomo jamais pode ver.
Me vi criança de novo ali, sentada, recebendo toda uma vida em páginas da apostila, como um roteiro de filme que ele seguia para se ater somente ao tema, mas jamais apenas ao conteúdo. Ele ia além. Ensinava mais que os livros e sempre pudemos, eu e minha irmã, ter acesso a muito mais. Várias faces de um mesmo assunto, mas como um prisma de cristal. Reluzente e multifacetado até que ele sentisse o ângulo certo para que você visse a luz perfeita que irradiava.
Como a vida se repete. Impressionante.
Vivi conheceu o prisma. Relatou, assim como eu sentia na época, que a doce voz, por vezes dava sono.
Expliquei não ser sono e sim, uma vontade imensa de saber mais. Ela adora estudar com o avô.
Eu também...para sempre, estudar com meu pai.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

O Cuco

Era uma vez uma menina curiosa que visitava o avô no interior de São Paulo.
A casa do avô era uma alegria. Primos, seus cachorrinhos, almoços em família, bagunça, liberdade de brincar na rua até tarde sem preocupações do mundo moderno.
A menina gostava, sobretudo de admirar o cuco que o avô mantinha na sala como parte de uma pequena coleção destes modelos de relógio espalhados pela casa.
Ele era lindo. Sua madeira escura imprimem dois pássaros em suas laterais. Seu pêndulo é uma espécie de ninho e os pesos de sua corda manual são duas pinhas.
A menina cresceu vendo aquele objeto e deliciando-se com as horas cheias e meias horas que ele registrava.
O tempo de uma infância na casa do avô.
Seu fascínio era tanto que cresceu imaginando se um dia poderia tê-lo ou pedi-lo para si.
O tempo passou, a menina cresceu, mas jamais se esqueceu do cuco que tantas alegrias registrou.
A casa do avô não existe mais e, embora tenham mudado, a menina, já mulher, encheu-se de coragem e pediu o relógio. Não o mesmo, talvez um menor ou mais simples.
O avô simplesmente sorriu. Seu sorriso era único e, assim como seu pai, o silêncio ou poucas palavras deveriam servir de consolo e justificativa para quaisquer indagações.
Então, em uma primavera, outono ou inverno de um ano qualquer, o cuco chegou em suas mãos. Presente do avô.
Veio todo embrulhado em jornal e desmontado para resistir ao transporte.
Não era nenhum outro cuco senão aquele que ela mais amava. O cuco da infância. Aquele que embalava sua imaginação e a fascinava soberanamente desde menina.
Ela acreditou que o melhor lugar para que ele ficasse fosse na sala, na mesma sala, de seus pais e onde aquele cuco poderia povoar os sonhos e a imaginação de seus filhos e sobrinhos.
Em uma véspera de natal, apesar de já muito distante, seu avô estava presente, em espírito.
Seu pai, dava cordas no cuco, enquanto um garoto, fascinado, em pé sobre uma cadeira, tentava decifrar seu engenho.
O menino cresceu, acompanhando o mesmo cuco, em uma terceira geração de admiradores do objeto.
Há 5 dias, o menino com quatro anos, perguntou para o avô como o cuco batia.
O avô colocou o menino sobre os joelhos e carinhosamente explicou. Assim como o avô da menina um dia com ela o fez.
O menino não queria dormir e o avô disse: “vá deitar. daqui há pouco o cuco vai bater 11 vezes, dez mais um e de sua cama você vai ouvir”.
A menina, vendo a cena, chorou. Pelos anos e tempo que o cuco já bateu e presenciou.
Pelas infâncias e alegrias que ele registrou.
Pelo avô, por seu pai, e pelo menino, seu filho.
Saudades vovô.
Sua neta, Claudia.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Bendito seja 2009

Enfim o verão chega e traz consigo uma nova esperança com o começo de mais um ano cristão.
Meu coração se enche de alegria e sonhos, aumenta o peso da idade, porém a alma se aquieta.
Pareço ter a certeza de dias melhores e prosperidade trazidas pelas mãos de minhas protetoras: Rosa e Leontina.
Prospero na medida em que caminho e sigo o curso das águas da vida, obedecendo as marés e acreditando nos sonhos que rabisco em algum caderno deixado em cima da mesa.
Passamos o ano novo em uma chácara onde pude ver a força da mãe natureza. Na primavera que sustentou-se ao longo da vida em um pinheiro, dos pássaros que sobrevoam o terreno nas mais belas formas e cores de asas e penas, das árvores que me permitiram abraçá-las, dos coqueiros seculares, do cheiro do mato e chuva que se aproximava. Sentia ao longo das tardes preguiçosas a força do sol e ao cair da noite, o perfume do vento.
Pude renovar minha vida em alguns poucos dias que passei com minha pequena, mas soberana família. Vi meus filhos alegres e felizes com os seus pais dando-lhes atenção constante e ininterrupta sem o toque intrigante dos celulares, sem televisão ou computadores que pudessem lhes roubar a presença.
Parecíamos parados no tempo da alegria e do amor infindo que sentimos uns pelos outros.
Senti imensa falta de meus pais que poderiam ter vindo conosco.
Sinto-me controlando minha vida e, enfim, deixando aos poucos a nave-mãe. Não na velocidade que queria, mas ainda assim, partindo e, aos poucos, sendo para os meus, o que meus pais foram para mim. A referência, a virtude e a base para tudo.
Sinto a cada dia minha alma eterna, retida em corpo, crescer e saber cada vez mais, conhecer e estudar, desbravar e aprimorar.
Peço aos deuses que me sigam, pois estou caminhando e não pretendo parar. Estou longe demais de casa e quero ainda muito mais construir e realizar. Como um arquiteto que começa sua obra, mas sabe que pode acrescer ainda mais o projeto.
Vi as borboletas renovadas e livres de seus casulos, percorrerem o platô. Ouvi corujas anunciando a alta da noite e estrelas em um céu salpicado e brilhante como jamais poderemos ver em cidades grandes.
Vi pessoas humildes desejando-nos bom dia, com a maior sinceridade.
Mergulhei em águas que estavam ali para refrescar-me e diverti-me, mas ainda assim, purificar-me, lembrando-me de minhas origens nesta vida.
Que venha 2009. Nós o abençoamos. Bendito e poderoso ano que nos trará muitos frutos, que arduamente semeamos.
Bendito fruto de nosso esforço e dedicação.
Que venham nossos frutos. Vistosos, saborosos e que nos saciem e a fome, espiritual e carnal.