segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Deixei uma camisa

Deixei uma camisa para lavar depois que você chegar.
É uma forma de sentir seu cheiro, te reter em meus braços e poder sentir o abraço e o conforto que só em teu peito sinto.
Deixei uma camisa e nela me agarro como um náufrago a um pedaço de madeira.
O seu cheiro está lá. Na camisa que deixei para lavar, somente quando você chegar.
Deixei uma camisa para lavar, mas somente depois que você chegar...

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O garoto



Ninguém jamais vai entender isso, mas William pediu para voltar.
Foi alto, claro e em bom som.
Estava sentada no chão em um dos quartos da casa onde morava. Era meio da tarde e o sol refletia nos armários deste quarto que não usávamos para quase nada.
Era como uma sala de bagunça. Eu estava ouvindo musica, essa musica do Marcus e de repente, ouvi sua voz.
Na mensagem, ele me pedia que permitisse sua volta. Que lhe desse nova chance para um recomeço ao nosso lado.
Eu, surpresa, prometi que lhe daria quando houvesse oportunidade. Para nós, naquele momento era quase impossível.
Passei a sonhar com ele e a achar que se tratava de Angus, presente em minhas memórias em uma outra história que depois eu conto.
Os anos se passaram e, quando visitei este apartamento pela primeira vez, do qual hoje sou feliz proprietária, olhei cada quarto em um total de quatro e imaginei aquele garoto brincando em um deles. Lembrei do pedido e da promessa. Da emoção em conflito com a razão em minha vida.
Olhei cada janela e o parquinho onde ele poderia brincar ao meu lado.
Senti desesperada suas mãozinhas e comecei a chorar. Ele nada mais me pediu, exceto naquele dia, naquela hora e naquele momento, há anos atrás.
Quando decidimos comprar o apartamento que ganhamos do papai, o processo de compra demorava demais. Estávamos achando que perderíamos o imóvel porque o corretor não se mexia.
Ingressei no apartamento para mais uma visita e no banheiro da suíte, admirando suas belas torneiras eu pedi a ele que me ajudasse a conseguir o imóvel. Ele disse que se um dos quartos fosse dele, que daria tudo certo.
E assim deu. O ano era 2003 e em março de 2004 trouxe ao mundo meu filho que dia 1 de dezembro completará seis anos.
Ali está seu quarto, seus brinquedos, como eu havia visto. Ele está brincando lá fora como eu previ, no parquinho.
O que jamais poderia prever era receber tanto amor.
William é o grande desfecho de uma ópera. O momento máximo de uma existência. O equilíbrio de uma vida.
Seu amor fácil, sua gentileza, sua doçura, inteligência. Ele é único e ele me escolheu. Entre tantas pessoas melhores, ele me escolheu. Não importando pelo que fosse passar, sofrer ou viver, ele me escolheu.
Entre tantas mulheres maravilhosas e doces do mundo, ele me escolheu.
Olhar meu filho a se desenvolver hoje é umas das coisas mais lindas que posso presenciar.
A honra de ter sido por ele escolhida, jamais poderei explicar.
Preciso dele como do ar e hoje não consigo compreender como pude esperar tanto.
Querido,
Espero fazer juz a todo esse amor e confiança. Espero ser digna de suas escolhas. Quero dizer, meu filho, que você também foi o grande bater de asas de minha vida.
Que meu amor por você é para muitas vidas e que sempre ouvirei você.
Não importa onde eu estiver eu sempre ouvirei e estarei com você.
Não haverá distâncias, medos, nada que nos separe por toda eternidade. E quando eu estiver velhinha, não precisa cuidar de mim como prometeu. Pode ficar com os seus. Eu entenderei, mesmo porque eu viverei e vivi minha vida toda para trazê-lo e receber de ti todos os abraços do mundo a cada manhã. São momentos mágicos que nunca, jamais poderiam ser comparados ou substituídos.
Te amo, meu querido. Para sempre. E sempre, é um tempo muito grande para você hoje compreender, somente quando estivermos em outro plano, juntos de novo, poderá entender que ‘para sempre’ é tempo demais para muitos, mas segundos para o tamanho do amor que sinto.
Te amo. Mais do que posso.
Sua mãe.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

É fim de tarde



Lá se vai mais um dia. O sol deu lugar a uma nuvem negra da tempestade que se aproxima.
O vento derruba dois vasos na varanda. O lírio e a chicória da horta do William que está em um recipiente separado porque cresceu demais. Talvez ela saiba que por ele, jamais será comida.
Insisto em escrever, apesar dos vasos.
Olho pela janela e vejo o céu em um fim de tarde que muitos achariam insano gostar, mas gosto.
Quando a tempestade se aproxima, parece que olhamos para dentro e nossos pensamentos dirigem-se à concentração absoluta do silêncio deles.
As lágrimas vêm como se fossem convidadas a presenciar esse momento.
A música toca no fone de ouvidos, mesmo porque exigiria uma concentração absurda por causa do volume da televisão da sala de tv.
Introspecção. Assim fico quando vem a chuva. Em um momento de pura introspecção e reflexão.
Imagens, ideias, vontades, ilusões...tudo vem ao meu encontro nessa hora.
Meus dedos correm pelo teclado a uma velocidade de sentimentos e não de raciocínio.
Sinto paz.
Então a chuva chega e seu som pela vidraça é mágico.
Parece que sinto o pisar na relva molhada e sinto a chuva no rosto dos meus tempos de criança. As poças d água, os barquinhos na enxurrada, o permanecer sob a calha como se fosse uma cascata. Os pés no chão e a alma limpa.
Assim fico quando vem a tempestade. Com uma nostalgia e doces lembranças de um passado que não volta mais. Esse seria um dos momentos que reviveria se pudesse.
Chegar na Dada e levar aquela bronca da minha avó e depois tomar um café com Arak para não pegar um resfriado.
Para quem não sabe, o Arak é uma bebida árabe. Uma espécie de pinga/cachaça feita com anis, ou melhor: destilada da tâmara ou uva, aromatizada com anis dentre outras especiarias (Wikipedia).
Lembro as roupas molhadas no banheiro, esperando que alguem as recolhesse tamanha sujeira de barro e terra de nossas brincadeiras e tardes na rua e na chuva.
A vontade que dá é de sair correndo ao encontro da tempestade e lavar tudo o que me angustia. Liberar no meio da rua meus medos, ansiedade, insegurança e ao fazer isso, soltar o grito da abolição dos grilhões desta energia ruim que fica sempre ao redor.
Já que não posso viver isso, eu imagino que vivo. É claro que não é a mesma coisa, mas vale.
Pegar um filho em cada mão e sair correndo, gritando e rindo e nesse momento reviver toda a magia de anos atrás.
Mas, meus filhos nunca tomaram chuva, nunca subiram em árvore, nunca puseram um barquinho na enxurrada...
Ainda dá tempo de reverter isso e assim, quando eles forem adultos, poderão aliviar suas angustias imaginando em um dia como esse, fazer a mesma coisa que eu fazia quando criança, depois com eles e eles com os filhos deles em um ciclo eterno.
Bem vinda mãe chuva!
Que apesar do teto e da vidraça que me prendem aqui, meu espírito possa para sempre voar livre com você. Que sempre ao te receber eu possa ouvir minha avó, meu riso e a água que corre.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Eu não sabia.

Sinto muito. Eu não sabia.
Não senti, não percebi, não li...eu não sabia.
Curiosamente foi no dia anterior ao da tatuagem. Curiosamente, estava tão cheia de problemas que não pude perceber a tênue coincidência. Ou seria grande coincidência?
Espero que você não esteja brincando de novo, porque estou muito, muito triste com a confirmação de que não nos encontraríamos nesta vida. Dura verdade que hoje sangra.
Embora saiba que o tempo não existe ainda me dói saber que deverei esperar ainda mais. Quantos anos? Quantos séculos? Quantas encarnações?
Tudo o que passei e sofri para terminar assim?
Qual a coerência? Qual a lógica disso tudo? O que mais dói é saber que ninguém jamais entenderia isso. Lágrimas de fãs, quem me conhece irá dizer.
Poucos sabem de tudo. Raros entendem minha dor.
E eu achava que este vazio de ideias, de textos e sentimentos era em função do inverno. Era em virtude da rotina, do cansaço, do estresse... Sei lá.
Mesmo assim já faz 3 meses que você se foi. É tempo demais?
Fico aqui, tentando buscar os sinais que não percebi, mas, pensando bem para que?
Nem que eu convencesse os anjos eu poderia mudar qualquer coisa. Nada.
Talvez agora o livro saia. Talvez agora eu conte a história. Será?
Você deu rosto a um sonho ou você era a minha memória?
Jamais saberei.
Goodbye my dark Angel.

“…She was never there…
…Only the deaf hear my silent
shouts
Yet in the dark, still he screams your name…
…Autumnal rays
turned your eyes to stone
Did it give you pleasure to steal my soul?
Leave her, Leave her alone
I said leave her alone

Me? I know
why”

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Então o amor é isso



Vi meus pais com olhos de filha a vida inteira.
Desde que me casei, passei a olhá-los com admiração ainda maior e a observar detalhes que antes eu não via.
Pelo casal que são, pela cumplicidade que têm, pelo carinho e compromisso que assumiram ao longo desta história que hoje completa 42 anos.
Um mundo só deles.
Lembro-me criança de ouvi-los conversando à noite no quarto. Creio que os problemas eram tratados sempre longe de nós. Nunca as atrocidades e os agravamentos em questões de orçamento, divergências ou outros assuntos eram discutidos em nossa presença.
Nosso contato um pouco maior era com a mamãe. Ela trabalhava dando aulas, por vezes em mais de uma escola, mas estava em casa aos finais de tarde para o checklist de mãe.
Quase não víamos meu pai. Ele saia para o trabalho muito cedo e voltava bem tarde.
Conseguíamos esperá-lo chegar quando ficamos mais velhas e a quantidade de sono era menor.
Uma lição de vida. As superações, as conquistas. Tudo que os permeia é notável.
Filha orgulhosa tenha certeza.
Amo vocês.
O casamento deles foi a primeira cerimônia na Capela Santíssimo Sacramento em Botucatu.
O vestido de minha mãe foi o mais lindo que já vi. Queria ter me casado com ele, mas não foi possível. O véu era enorme e cobriu toda a nave da capela.
É uma história que você acredita que não daria certo, jamais.
Minha mãe foi noviça por anos e meu pai estava noivo, mas já em vias de rompimento.
Conheceram-se no trabalho vindo de mundos distintos.
Minha mãe foi a primeira mulher a assumir o caixa de uma agência do Banco Itaú e meu pai era chefe de Inspetoria (não me pergunte o que quer dizer).
Conheceram-se, apaixonaram-se, casam-se e eis-me aqui escrevendo as memórias deles.
Seria mais justo que eles o fizessem.
Eles são luz. São exemplo a ser seguido de conduta e dignidade. De amor e cumplicidade.
Descobri o amor através dos olhos deles. A vida, por meio deles.
Amo. Mais que tudo e grata sou por eles. Por tudo.
Parabéns meus amores.
O presente levo amanhã.
Saudades. Sempre.






~ O Amor ~
~ Gibran Kahlil Gibran ~
Então, Almitra disse: “Fala-nos do amor.”
E ele ergueu a fronte e olhou para a multidão,
e um silêncio caiu sobre todos, e com uma voz forte, disse:
Quando o amor vos chamar, segui-o,
Embora seus caminhos sejam agrestes e escarpados;
E quando ele vos envolver com suas asas, cedei-lhe,
Embora a espada oculta na sua plumagem possa ferir-vos;
E quando ele vos falar, acreditai nele,
Embora sua voz possa despedaçar vossos sonhos
Como o vento devasta o jardim.
Pois, da mesma forma que o amor vos coroa,
Assim ele vos crucifica.
E da mesma forma que contribui para vosso crescimento,
Trabalha para vossa queda.
E da mesma forma que alcança vossa altura
E acaricia vossos ramos mais tenros que se embalam ao sol,
Assim também desce até vossas raízes
E as sacode no seu apego à terra.
Como feixes de trigo, ele vos aperta junto ao seu coração.
Ele vos debulha para expor vossa nudez.
Ele vos peneira para libertar-vos das palhas.
Ele vos mói até a extrema brancura.
Ele vos amassa até que vos torneis maleáveis.
Então, ele vos leva ao fogo sagrado e vos transforma
No pão místico do banquete divino.
Todas essas coisas, o amor operará em vós
Para que conheçais os segredos de vossos corações
E, com esse conhecimento,
Vos convertais no pão místico do banquete divino.
Todavia, se no vosso temor,
Procurardes somente a paz do amor e o gozo do amor,
Então seria melhor para vós que cobrísseis vossa nudez
E abandonásseis a eira do amor,
Para entrar num mundo sem estações,
Onde rireis, mas não todos os vossos risos,
E chorareis, mas não todas as vossas lágrimas.
O amor nada dá senão de si próprio
E nada recebe senão de si próprio.
O amor não possui, nem se deixa possuir.
Porque o amor basta-se a si mesmo.
Quando um de vós ama, que não diga:
“Deus está no meu coração”,
Mas que diga antes:
"Eu estou no coração de Deus”.
E não imagineis que possais dirigir o curso do amor,
Pois o amor, se vos achar dignos,
Determinará ele próprio o vosso curso.
O amor não tem outro desejo
Senão o de atingir a sua plenitude.
Se, contudo, amardes e precisardes ter desejos,
Sejam estes os vossos desejos:
De vos diluirdes no amor e serdes como um riacho
Que canta sua melodia para a noite;
De conhecerdes a dor de sentir ternura demasiada;
De ficardes feridos por vossa própria compreensão do amor
E de sangrardes de boa vontade e com alegria;
De acordardes na aurora com o coração alado
E agradecerdes por um novo dia de amor;
De descansardes ao meio-dia
E meditardes sobre o êxtase do amor;
De voltardes para casa à noite com gratidão;
E de adormecerdes com uma prece no coração para o bem-amado,
E nos lábios uma canção de bem-aventurança.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Inverno



Sei que devo esperar o inverno acabar e renovar todo o ciclo para que então haja um reinicio.
As horas parecem congeladas enquanto o vento sopra forte e me empurra para dentro de mim.
Estou sentada no alto da colina, observando os verdes campos da Escócia, pensando em quão sozinha estou. Meu espírito, livre, vaga pelo mar e volta para casa.
Meu corpo cansado e já envelhecido espera o momento de poder fazer o mesmo.
Tantas vezes quis voltar, mas não acho mais o caminho. Ele se perdeu de vez. Jamais saiu de mim, mas não consigo mais ver por entre as brumas.
Devo esperar que a estação acabe.
Sinto tanta saudade. Não vejo mais os meus. Ele desapareceu há anos, embora saiba que sempre está por perto, ele não vem mais em meus sonhos.
Naylah não voa mais. Não ouço seu pio. Não vejo mais seus olhos na noite fria, e isso me desorienta.
Apesar do sol forte, a visão turva como se fosse tempestade. As lágrimas se confundem com a chuva.
É tempo de esperar. Enquanto espero, planto o que quero que desperte quando a primavera chegar.
Vejo as cores que se mostrarão imponentes aos meus olhos marejados. Os ventos que semearão meus sonhos e que trarão vida de volta a este lugar. Desenho os símbolos sagrados em solo fértil e consigo ter paz, mesmo por um breve período, enquanto espero.
O sabor das maçãs, o aroma das flores, as tardes preguiçosas sobre a relva, o sol forte no rosto, mostrando que ainda estou aqui, viva.
Então, assim que o sol apontar a primeira manhã da estação das flores saberei que nova roda começará a girar. Terei minhas esperanças renovadas, os sonhos plantados e a aventura recomeça, mas enquanto isso...Inverno.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Eu queria uma receita



A receita para criar filhos.
A menina que entra na fase complicada da adolescência e que, por um vacilo se descuida.
Queria a receita e saber o que dizer e como orientar. Olho para ela e me vejo menina, insegura, sentindo-me feia, burra, entre outras características.
Como isso é complicado, nos revemos na história e muitas vezes queremos dizer aquilo que gostaríamos de ter ouvido. Mas trata-se de outro ser, outra vida, outra história e em um momento como esse é tênue a linha da confusão.
Por vezes, paramos para lembrar esta gritante diferença entre os mundos, mas às vezes escapa o script e mais vezes ainda, foge o que dizer.
A insegurança dela então se transfere para a mãe que fica a pensar se agiu e disse o que precisava e devia ser dito.
Flores em estufa. Qual adubo usar? Qual período de poda, rega? Quanta luz deve receber? E quando fizer frio? Ou muito calor...
Onde está a receita do que muitas vezes pode tratar-se de um erro irremediável. É uma vida que está em suas mãos. Quanta responsabilidade para alguém que ainda tem dúvidas, medos e inseguranças e os terá até o fim da vida.
O papo começa, rola bem, a mãe mostra algumas fotos para exemplificar. A menina ouve, apenas ouve. A mãe chora por lembranças, ou seria pela insegurança que sente?
Precisa mostrar-se forte, mas não consegue. Fracassa quando a voz embarga e as lágrimas caem.
A menina olha. Parece entender, mas no fundo continua tão confusa quanto antes.
Quero que se espelhe em mim? Quero que deixe de cometer os mesmos erros que tive o direito em cometer? Quero poupá-la ou quero que aprenda? Quero trancá-la na estufa ou quero que cresça livre sentindo o gosto das brisas e o frescor dos orvalhos?
O que fazer para que acredite naquilo que digo e que, certamente a favorece?
Queria abrir sua cabecinha e colocar tudo lá dentro. Arrumar as prateleiras e jogar fora aquilo que só está ocupando espaço.
Deixar bem à mão aquilo que serve e que vai ajudar. Os dicionários dos dilemas da vida, as perguntas respondidas como um faq, as frases de otimismo e auto-ajuda.
Como uma grande e infalível receita para ser feliz.
Tem tanta coisa ruim ocupando bons e acessíveis espaços. Muitas vezes sei que ficarei apenas observando ela arrumar, sem poder ajudar ou dar palpites, mas será doloroso, sei disso.
Por isso queria a receita. Seria tão mais fácil. Pouparia seu sofrimento e o meu.

domingo, 4 de abril de 2010

Desabafo

Este post teve vários títulos. Mudei diversas vezes. Nem sei se deveria ser este que postei, mas...



Momentos importantes e que merecem ser relembrados, serão para sempre. Não importa por onde andemos o que aprontemos. Não importa o que saibamos o que façamos as vidas que vivemos.
Na minha estrada da vida, quando olho para trás vejo sempre este grande homem.
Por vezes a segurar o selim de minha bicicleta, às vezes minhas mãos para mais um passeio de patins.
Outras, estendendo suas mãos para que eu jogasse o chiclete, ou consolasse meu choro em seus ombros, ou ainda segurando o lenço para estancar o sangue do corte.
Vejo os imensos livros de história que hoje leio para meu filho. Horas em frente à TV vendo os nossos vícios: filmes, bons filmes. Vejo a espera, apesar da hora avançada, de me ver chegar da faculdade. Vejo-o sentado no chão da sala brincando comigo e com minha irmã.
O consolo ao rompimento com o namorado. As inúmeras vezes que perdíamos a hora conversando na cozinha.
É muito curioso como isso tudo nunca deixou minha mente. Sim porque minha memória é limitada e não me lembro de muitas coisas, mas sim, me lembro deste grande homem.
Sua paciência ao estudar comigo, suas horas de conversa sem nunca ter me dado uma surra, nem sequer um tapinha, embora muitas vezes tenha merecido, e como mereci.
Muitas coisas eu ainda não entendo, claro. Talvez eu viva a vida toda sem entender. Uma coisa é fato, meus momentos de papo e cumplicidade jamais trocarei por nada.
Apesar dos receios e vergonhas, abria-me muito mais com ele que com minha mãe. Era muito mais fácil. Haveria pelo menos o esforço em tentar entender minhas atitudes, mesmo que as condenasse.
Resgatar tudo isso do fundo da memória na terapia está sendo muito doloroso. Sinto até mesmo em minha voz a diferença imensa entre falar de um e de outro.
E ainda assim, quando tudo isso volta, sempre existe aquela voz interrompendo o que de mais mágico acontece comigo: os raros e esparsos momentos em que posso reviver tudo isso.
Então não entendo. Porque sempre devo dividir e tolerar se não tolero mais? Qual a maldade em poder reviver os meus momentos? Por que isso a incomoda tanto? Por que não me deixa viver com quem a vida toda me deu aquilo que ela me privou?
Como esse homem é importante em minha vida. É mais do que posso explicar e sentir.
A cada despedida é esse drama. E ainda não estendo essa distância. Não tem explicação.
Vejo-o sendo tolhido e meus momentos tornando-se cada vez mais raros. Nossos compromissos avançando na agenda comprometendo os finais de semana e para que?
Para agradá-la. Para que ela não fique falando ou molestando.
Para que? Para que?
Sinto-me como um canário premiado que, enfim, descobriu como abrir a gaiola. Estou tentando assimilar que sim, tenho asas e as posso usar.
Espero o momento certo de voar e espero que eu o faça enquanto eu puder ter a mão deste grande homem a me amparar.
Sim, porque sei que vou voar. Eu posso e eu vou.
Que nada nem ninguém mais se interponha entre mim e minhas asas.
Que ninguém se interponha mais entre mim e minhas lembranças e menos ainda entre os momentos em que posso desfrutar da companhia deste grande homem. Mesmo que não digamos nada. Mesmo que estejamos entretidos com outras coisas. Estamos juntos e isso é o que importa.
Hoje o texto inclui revolta, mas ela é saudável, por isso vai para o “papel”. É uma forma desesperada que tenho de me convencer daquilo que quero fazer e de como desejo agir.
Não me interprete mal, apenas desabafo minhas pequenas frustrações, pois não posso chorar e gritar como o William, apenas escrever e deixar pequenas lágrimas cair no teclado e disfarçar a emoção das crianças.
Final de semana eu volto, mesmo que tenha de ir a pé (que exagero) para mais momentos com você.
Obrigada grande homem, por estar em minha vida e ter escolhido ser meu pai.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Imaginando coisa...




Estou aqui imaginando coisa.
Claro, a cabeça não para.
Lembrei do filme “Efeito Borboleta”. Já assistiu? Não?
O cara consegue voltar no tempo em determinadas situações e dá uma alteradinha no que acontece para corrigir efeitos colaterais. Acontece que, a cada vez que ele modifica o passado, algo pior acontece.
Eu queria ter esse dom para poder voltar a momentos interessantes de minha vida. Só para saber o que teria acontecido. Por pura curiosidade.
Aquele amor não correspondido, as perdas de tempo em frente ao espelho, os sins e nãos da vida.
Os abraços e beijos que não dei, os amores aos quais não me entreguei, a paciência que não tive.
As palavras proferidas, as desavenças, os erros e acertos.
As alegrias e as tristezas que talvez pudesse ter vivido e evitado respectivamente.
As canções que não toquei. O idioma que não aprendi corretamente. As aulas que cabulei.
E se eu tivesse...e se não tivesse...
Queria saber o que teria acontecido e sei que desencarno sem saber.
Como boa escorpiana, curiosa até a raiz dos cabelos, isso me incomoda.
Por que devemos andar às cegas? Por que para mim é tão difícil conviver com minhas decisões. Por que não posso simplesmente me conformar com elas e ficar pensando nessas coisas?
O vidro de maionese que derrubei e quebrei, as bombas no colégio que tomei, os amigos que deixei, os pretendentes que ignorei.
Curiosa, sigo a vida, mas ainda assim pensando. Estou fazendo minha Bucket List, assim como o outro filme que adoro. Vejamos:
1. Testemunhar algo verdadeiramente majestoso
2. Ajudar um desconhecido completo para o bem (Ok)
3. Laugh till I cry (Ok. Aliás, várias vezes, principalmente com minha irmã e depois com o Dedi e até já algumas com a Vivi)
4. Dirigir um Shelby Mustang
5. Beijar a garota mais bonita do mundo (Ok. Claro, a Victoria)
6. Fazer uma tatuagem (Ok. Já tenho duas.)
7. Pára-Quedismo
8. Visite Stonehenge (esse é um de meus maiores sonhos)
9. Passe uma semana no Louvre (nossa, isso deve ser demais!)
10. Ver Roma (nem tanto, trocaria pelo Líbano)
11. Jantar no La Chèvre d'Or (depende)
12. Veja a Pirâmides (com certeza e não me contentaria a ficar do lado de fora)
13. Get back in touch (anteriormente "caça o gato grande", acrescentou depois de ter sido anteriormente adicionado e cruzou off)
14. Visite o Taj Mahal
15. Hong Kong (prefiro as cidades agrícolas do Japão)
16. Victoria Falls (Não sei não, acho que há lugares melhores e no Brasil mesmo)
17. Vá em um safari (Não! Troco por dias na Irlanda)
18. Conduzir uma motocicleta no Grande Muralha da China (que tal cavalgar nas Highlands?)
19. Sente-se sobre as Grandes Pirâmides do Egito
20. Encontrar a alegria na sua vida (Ok. Minha família)
No texto de Adília Belotti (http://somostodosum.ig.com.br/conteudo/conteudo.asp?id=07773), ela escreve:
“Muitos psicólogos aconselham fazer essas listas. Dizem que escrever cria um comprometimento nosso, e que o sonho começa a se realizar no momento em que conseguimos formulá-lo, extraí-lo do fundo de nós, arrancá-lo da correria do cotidiano. No mínimo, criar uma bucket list é uma forma de tomar consciência dos nossos desejos, iluminá-los, e, através deles, descobrir o que realmente é importante para nós…”
Na minha Bucket list ainda acrescentaria:
21.Dirigir um Thunderbird vermelho em qualquer estrada em LA ouvindo Great balls of fire de Jerry Lee Lewis no último volume
22. Conhecer o Egito e a Turquia, bem como a terra de meus ancestrais Líbano, Espanha, Irlanda e Escócia e, por que não Londres.
23. Navegar por dias em um veleiro até que a saudade de casa aperte
24. Assistir a uma ópera
25. Participar de uma Festa de Orixás
26. Ver a neve
27. Rever Manuela

Neste Blog http://euestouvivo.blogspot.com/2006/09/lista-de-coisas-fazer-antes-de-morrer.html
Existe uma lista com 150 coisas a fazer. Escolha as suas. Eu? Vou completar a minha.

1. Pagar uma bebida a toda a gente num bar*
02. Nadar com golfinhos selvagens
03. Subir uma montanha
04. Fazer um test drive num ferrari
05. Estar dentro da grande pirâmide
06. Pegar numa tarântula
07. Tomar um banho à luz de velas com alguém
08. Dizer “amo-te” e senti-lo*
09. Abraçar uma árvore *
10. Bungee jumped
11. Visitar Paris
12. Observar uma tempestade em alto mar
13. Ficar acordado a noite inteira e ver o nascer do sol *
14. Ver o sol da meia-noite *
15. Ir a um grande acontecimento desportivo (médio conta? campeonato europeu de handebol?)*
16. Subir as escadas até ao topo da torre de pisa
17. Cultivar e comer os teus próprios vegetais *
18. Tocar um iceberg
19. Dormir sob as estrelas *
20. Mudar a fralda a uma criança
21. Fazer um passeio num balão de ar quente
22. Ver uma chuva de meteoros * (de certeza k era isto?)
23. Ficar embriagado com champanhe *
24. Dar mais do que se pode por caridade
25. Olhar para o céu nocturno por um telescópio
26. Ter um ataque de riso na pior altura possível *
27. Fazer uma luta de comida *
28. Apostar num cavalo vencedor
29. Convidar um estranho para sair *
30. Fazer uma batalha de bolas de neve
31. Gritar tão alto quanto se possa *
32. Pegar num cordeiro
33. Ver um eclipse total *
34. Andar de montanha russa
35. Fazer um “home run”
36. Dançar como um louco e não te preocupares com quem está a ver *
37. Falar com sotaque por um dia inteiro
38. Estar mesmo feliz com a tua vida, mesmo que só por um momento *
39. Ter dois hard drives para o computador *
40. Conhecer o teu país
41. Cuidar de alguém embriagado *
42. Ter amigos fantásticos *
43. Dançar com um estranho num país estrangeiro
44. Ver baleias selvagens *
45. Roubar uma placa/sinal de trânsito *
46. Andar de mochila às costas pela Europa
47. Fazer uma road-trip
48. Fazer escalada *
49. Fazer um passeio noite dentro pela praia *
50. Fazer paraquedismo
51. Visitar a Islândia
52. Ficar de coração partido mais tempo do que se esteve realmente apaixonado *
53. Sentar-te na mesa de um estranho num restaurante e comer com ele *
54. Visitar o Japão
55. Mugir uma vaca
56. Ordenar os teus CD’s alfabeticamente
57. Fingir que se é um super-heroi *
58. Cantar karaoke *
59. Preguiçar na cama o dia todo *
60. Pousar nu em frente a estranhos
61. Fazer mergulho
62. Dar um beijo à chuva *
63. Brincar na lama
64. Brincar à chuva *
65. Ir a um cinema drive-in
66. Visitar a grande muralha da China
67. Começar um negócio
68. Apaixonar-se e não ficar de coração partido *
69. Visitar locais ancestrais
70. Fazer uma arte marcial
71. Jogar um jogo mais de 6 horas seguidas *
72. Casar
73. Entrar num filme *
74. Ser penetra numa festa *
75. Divorciar-se
76. Ficar sem comer 5 dias
77. Fazer biscoitos desde o começo
78. Ganhar o primeiro lugar num concurso *
79. Andar de gôndola em Veneza
80. Fazer uma tatuagem
81. Fazer canoagem
82. Estar num programa de televisão como especialista
83. Receber flores sem razão *
84. Representar num palco
85. Visitar Lasvegas
86. Gravar música *
87. Comer tubarão *
88. Ter um caso de uma noite *
89. Ir à Tailândia
90. Comprar uma casa
91. Estar numa zona de guerra
92. Sepultar um dos seus pais
93. Fazer um cruzeiro
94. Falar mais do que uma língua fluentemente * (fluentemente? arranho no inglês)
95. Alguém confiar a si um segredo que não contou nunca *
96. Educar uma criança * (os mês sobrinhos conta)
97. Acompanhar o tour da tua banda favorita
98. Criar e nomear as tuas próprias constelações de estrelas
99. Fazer um passeio exótico de bicicleta num país estrangeiro
100. Mudar de cidade simplesmente para começar de novo
101. Andar na Golden Gate Bridge
102. Cantar bem alto no carro e não parar quando vê que alguém está a olhar
103. Fazer uma cirurgia plástica
104. Sobreviver a uma doença em que se podia ter morrido *
105. Ter artigos publicados
106. Perder mais de 50 EUR (ui! perder msm? entao não.)
107. Cuidar de alguém que esteja a ter um flashback
108. Pilotar um avião
109. Dar festas a uma cobra
110. Partir o coração a alguém *
111. Ajudar um animal a dar à luz
112. Ganhar dinheiro num concurso televisivo
113. Partir um osso *
114. Fazer um safari fotográfico em Africa
115. Fazer um piercing
116. Disparar uma arma *
117. Comer cogumelos apanhados por si (got damant!!)
118. Andar a cavalo *
119. Fazer uma grande cirurgia
120. Ter uma cobra como animal de estimação
121. Descer ao fundo do Grand Canyon
122. Dormir mais de 38 horas seguidas
123. Visitar mais países estrangeiros do que províncias no teu país
124. Visitar todos os continentes
125. Fazer um passeio de canoa que dure mais do que 2 dias
126. Comer carne de canguru
127. Comer sushi
128. Ter a tua fotografia nos jornais *
129. Mudar a opinião de alguém sobre alguma coisa em que acreditas profundamente *
130. Voltar à escola *
131. Fazer parapente
132. Fazer de uma barata um animal de estimação
133. Comer tomates fritos
134. Ler a Ilíada e a Odisseia
135. Seleccionar um autor importante que não trabalhou na escola e lê-lo
136. Matar e preparar um animal para come-lo *
137. Faltar a todas as reuniões de antigos colegas de escola *
138. Comunicar com uma pessoa sem partilharem um língua comum *
139. Ser eleito para um cargo público
140. Escrever a tua própria linguagem no computador
141. Pensar para ti próprio que estás a viver o teu sonho
142. Ter de por alguém de quem gostas num internamento psiquiátrico
143. Construir o teu PC a partir de peças soltas
144. Vender uma peça artística feita por ti a alguém que não te conhece
145. Ter uma banca numa feira de rua
146: Pintar o teu cabelo
147: Ser um DJ
148: Rapar a cabeça *
149: Causar um acidente de viação *
150: Salvar a vida de alguém

segunda-feira, 8 de março de 2010

Dia Internacional da Mulher




Há milênios essa data não precisava existir. Em outras civilizações, éramos tratadas de forma semelhante e em outras éramos as líderes e comandávamos uma nação.
Foi preciso uma fatalidade para que pudéssemos ter voz. A mesma voz antes tão ouvida.
Hoje nos vemos como rivais e não como amigas ou irmãs.
Comparamo-nos umas às outras com inveja. Exercemos nossa crueldade tratando-nos com descaso.
Houve um tempo onde nossa sabedoria e tudo o que nos cercava era regado a festas e rituais de passagem.
Assim como as fases da lua e as faces da Deusa, nossa vida acompanhava o calendário de celebrações.
A menarca já foi considerada profana e as mulheres eram afastadas de seu convívio social por serem impuras. Antigamente não era assim. Era o período mais próspero, pois provava que o ciclo da vida permanecia movendo-se em sintonia com o universo.
A roda da vida cantada em harmonia junto à natureza.
Assim provando, minha pequena passa hoje por seu rito mais importante, deixando de ser menina para ser mulher.
Por que me admiraria de ter justo hoje acontecido? Minha sintonia com a Grande Mãe é tão forte que não seria de outra forma.
Celebro em meu coração e em minha casa este rito de passagem.

"Devemos lembrar-nos como e quando cada uma de nós passou por uma experiência da Deusa e se sentiu sarada e integral por causa desta. São momentos santos, sagrados, intemporais, embora por mais inefáveis que se possam revelar, sejam difíceis de reter em palavras. Mas, quando qualquer outra pessoa menciona uma experiência semelhante, isso pode evocar as sensações que voltam a captar a experiência; se bem que só aconteça se falarmos da nossa vivência pessoal. É por isso que necessitamos de palavras para os mistérios das mulheres, o que parece exigir que uma de cada vez explicite o que sabe - como tudo o mais que é de foro feminino. Servimos de parteiras às consciências umas das outras (...)” Jean Shinoda Bolen – compilado do texto original de Soraya F. Mariani.

"A Deusa torna o corpo e a vida sagrados, e liga-nos à divindade que permeia toda a matéria: o seu órgão simbólico é o útero.
O seu órgão de conhecimento é o coração.
Tanto o coração como o útero são vasos através dos quais a vida desperta. São ambos cálices para o sangue que os enche e os esvazia. Um sustenta a vida, o outro traz novas vidas ao mundo”. Jean Shinoda Bolen – compilado do texto original de Rosa Leonor

Parabéns minha querida. Que sempre saibamos cuidar desta sintonia e que sempre nos lembremos que somos seres sagrados e em eterno equilíbrio.
Te amo!

sexta-feira, 5 de março de 2010

O Cardiologista

Há cerca de 30 dias, em consulta de rotina na pediatra, a Dra Mara sugeriu que eu visitasse novamente um cardiologista.
Meus olhos esbugalhados tentavam acompanhar seus rápidos rabiscos na receita com a indicação dela ao médico de minha escolha.
“Estou ouvindo um ‘clique’ e não faz menção ao sopro. É outra coisa”
Quando nasceu, Victoria sofria de CIV – Comunicação Interventricular. Segundo o cardiologista que a atendeu na época (com apenas 7 dias), ela deveria operar em três meses, caso não fechasse espontaneamente.
Nem pergunte quantas promessas, novenas e centros espíritas levei a menina. São muitos e, em meu desespero, não sei dizer o que deste bolo todo, funcionou.
O fato é que funcionou e quando ela completou 3 meses, o cardiologista em São Paulo disse que o problema havia sido solucionado.
Fim de história.
Mudamos-nos para Itatiba, depois para Jundiaí. Em uma consulta de rotina em 2003, o som de seu CIV foi novamente detectado pelo pediatra. Entrei em pânico.
Lá fomos nós para a consulta ao cardiologista novamente. Ela estava com 4 anos.
Examina daqui e dali, foi constatado via eco cardiograma que nada havia para se preocupar.
Oba!
Mais promessas para pagar.
Todo esse rosário eu vi renascer naquela nova indicação. Naquele novo som que ela estava ouvindo.
Enquanto ela prescrevia, eu ensandecia.
Na manhã seguinte acesso a relação de médicos do convênio à procura de um nome: Wagner Ligabó.
O cardiologista que salvou o então Editor Chefe do Jornal Bom Dia de um ataque cardíaco. O cara devia ser muuuuito bom.
Lá estava ele, o último da lista pela ordem alfabética que as mesmas apresentam.
Ligo, ocupado. Ligo, ocupado. Ligo, ocupado e assim foi toda a manhã e início da tarde. Nada.
No dia seguinte entro em contato e, ao primeiro toque, uma secretária não muito ortodoxa atende informando que consultas com o dr Ligabó somente daqui há 40 dias.
4 0 d i a s !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Agendo e espero.
Enquanto isso acontece, rezo e faço as novenas e promessas de praxe. Encomendo a alma, vendo um rim, e espero.
Hoje pela manhã chega o grande dia.
Às 10h40 foi marcada a consulta, mas minha ansiedade me faz deixar Victoria pronta às 9h e acelerá-la às 10h.
Chegamos ao consultório às 10h15. Vinte e cinco minutos para eu ler Caras, Vogue e algumas Vejas que me escaparam.
“o Dr Ligabó está uma hora atraso nas suas consultas. Creio que lá pelas 11h30 você conseguirá ser atendida.” Me diz a insana secretária com um ar blasé.
Que pena que não costumo roer as unhas. Elas estão em um comprimento adequado para o ato.
Saio do consultório e vou fumar na calçada pensando na ironia do meu ato. Fumando na porta do Cardiologista. Hilário.
Um senhor, já cansado de esperar também, levanta um pouco, estica as pernas e surge ao meu lado para tomar sol.
Imaginei que ia ouvir um sermão quando o danado saca um maço de cigarros do bolso e me acompanha.
Apago o cigarro pela metade e entro.
Fica quase insuportável me manter tranqüila para que a pequena não sinta minha angústia.
10h30, 10h40, 11h, 11h15, 11h30 (lá se vai uma hora de espera) 11h45, 11h50, 12h! Victoria é chamada.
Minhas mãos se contorcem dentro da bolsa enquanto os exames e todo o dossiê dela aguardam avaliação do médico calmamente em meu colo.
Amenidades, papinho informal e então ele entra no assunto.
Explico tudo desde seu nascimento. Mostro os exames e laudos desde 1998.
Respiro.
Repreendo as lágrimas que morrem sufocadas no meio da garganta. Sei que é egoísmo pedir a perfeição, mas prefiro um câncer no meu cérebro a ver um filho meu doente ou correndo riscos de vida ou coisa parecida.
Dr Ligabó é um showman. Avalia tudo em silêncio. Observa, compara e então fala: “não se preocupe, ela não tem nada. O clique que a pediatra ouviu é normal para um cardiopata e suas arritmias são comuns na idade. Quando os hormônios começarem a funcionar, eles equilibram isso”.
Quis beijá-lo. Ou talvez, deitar sobre seus pés e servir de banquinho por algumas horas.
Mesmo que eu o tivesse pago para dizer aquelas palavras, não teria sido com tanta alegria quanto a verdade de seu diagnóstico.
Solicitou um eco cardiograma e disse para acompanhar a cada dois anos, mas que estava tudo perfeito com ela.
Só quem passa ou passou por isso na vida saberá entender meu alívio.
Despedi-me, entrei no carro e comecei a chorar. Chorar de alívio pela tensão enfim quebrada com as palavras tranqüilizadoras dele. Chorei por ela, por mim e pelo medo que sem que eu quisesse ainda estava me chacoalhando as pernas.
Minha fada não tem nada. Minha fada é perfeita e não existe risco algum para ela.
Agendo o exame para a semana que vem e retorno no cardiologista assim que possível.
Dessa vez, espero até 3h que ele me atenda só para ouvir, mais uma vez, que Vivi é perfeita.

Filmes

Horas em frente às telas. Esse é o grande barato da minha vida.
Recentemente meu pai me indicou um site com filmes raros para baixar gratuitamente, obedecendo a certas normas de uso privado e doméstico, claro.
Ainda penso se isso existe mesmo ou se o que venho fazendo desde que conheci o site é pirataria pura.
Enquanto decido, minha coleção de filmes raros, inesquecíveis e até os toscos que assistia na sessão da tarde, vão enchendo o HD do meu notebook.
Para a empresa, penso em esperar, mas para armazenar meus filmes preciosos e raros, penso seriamente em adquirir um HD externo para nunca mais me preocupar com isso.
A lista é imensa.
Todos os ganhadores do Oscar. Assisti até Gilda com a qual fui fisicamente comparada antes de virar um barril com pernas e braços.
É fato que assisti-los no computador vem sacrificando enormemente minha já desgastada coluna, mas fazer o que?
É mais rápido, prático e não junta aquele monte de DVDs na estante da sala de TV.
A propósito, estou formatando meu computador, o velho e bom PC para que eu possa ligar o Home Theater nele e então ver meus filmes em uma tela gigante e com som power.
Meryl Streep encabeça a lista dos mais baixados. Gostaria de entender como ela faz isso?
Sempre amei drama. Daqueles que te põe no avesso de tanto chorar. A d o r o!
Mas ultimamente Meryl tem optado pela comédia e consegue com a mesma maestria me entreter e encantar.
Por falar em cantar, Mama Mia tornou-se referência de seu talento. É perfeita.
Adoraria bater um papinho com ela e entender suas nuances. A propósito, atores devem ser super felizes pois podem sofrer de transtorno bipolar sem que ninguém toque no assunto, afinal, podem dar suas vazões nas telas.
Para quem curte cinema, aí vai o link: http://baixarlivrefilmesmoviesshows.blogspot.com/
A dona do blog é show! Caso você não encontre o que procura, envie um e-mail e, dentro das possibilidades em 48h ela põe no blog.
Boa pipoca!

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Espera covarde




Então fica assim.
A despedida fria e sem graça.
O “até breve” que na verdade torna-se uma eternidade.
Tudo em volta é só saudade.
E você ainda me pede que retorne a ligação
Que cantarole uma canção
Enquanto a solidão invade

Pede que me mantenha atenta
Na espera lenta
De um reencontro oportuno
E as horas passam
E a vida passa
Quase sem graça
Enquanto espero
Criando raízes no lugar onde me sento

Esperando que a vida
Crie a oportunidade
Para matar a saudade
Desta angústia que invade

E o tempo passa
E os anos passam
Quase a devorar quem espera
Enquanto isso
Faz sol lá fora
A dor piora

E o tempo passa
E os anos passam...

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Fim de tarde há 5 anos e hoje

Era fim de tarde, mas em horário de verão, ainda o sol brilhava timidamente pela chuva que rapidamente se aproximava.
Andávamos na praia eu, meu pai e meu filho.
Como a cinco anos, quando ele ainda estava em meu ventre.
Sons das ondas e das gaivotas nos últimos rasantes do dia.
A voz de meu filho a perguntar sobre tudo o que via.
As poucas conchas misturadas com o lixo que os humanos insistem em abandonar nas areias.
O sol sumindo no horizonte e nós dois aprendendo ainda mais um pouco com ele.
Como o tempo passa, pai. Como ele consome...
Meus iguais andando, e eu me emocionando com a cena que só o sol testemunhava.
O pequeno queria voltar. O avô recolhia uma garrafa de vidro abandonada.
Há cinco anos estive nessa mesma praia com meu pai. Hoje nós três de novo, nos revezávamos à procura das conchas já que a maré baixava.
Uma imagem diz mais que mil paralvras? Então lá vai: