terça-feira, 18 de janeiro de 2011

A Janela

São Paulo, 16.01.2011 às 3h45






Lembro-me menina quando uma noite em que simplesmente não conseguia dormir.
Eu Devia ter meus 8 ou 9 anos pois foi logo que nos mudamos para um apartamento na Abílio Soares onde morei até me casar em 97.
O tempo estava muito frio e, no escuro, me levantei criando coragem frente ao desconhecido e temido imóvel ainda não desvendado o encanto.
Tateei a luz do corredor que covardemente acendi por medo do escuro.
Meu destino era a cozinha ou sei lá onde. Talvez um copo de água para abrandar a insônia.
Meus pés, nus, tocaram o carpete da sala e antes que acendesse mais uma lâmpada, eu a vi.
Fiquei petrificada frente à beleza da cena. Da grande janela da sala no ultimo andar do prédio, a lua mostrava-se tamanha como eu nunca vira antes.
Seu reflexo beijava a vidraça e se espalhava pelo chão criando um tapete prateado onde me sentei para contemplá-la.
Ali fiquei por horas até que o sono voltasse.
Eu nunca mais fui a mesma depois daquele dia. Sabia que em noites frias e de lua cheia, eu teria esse momento mágico e assim passava meus introspectivos e reflexivos invernos.
Ainda hoje, quando pousamos na casa dos meus pais para as visitas, sendo inverno e havendo lua cheia essa cena se repete. E lá estou eu, pode acreditar hoje tendo a companhia do cuco que era do meu avô.
Ali sentada volto a ser criança e a cada noite maravilhada como na primeira vez.
Foram e ainda são anos maravilhosos e madrugadas incríveis amparadas por ela.
Todos os segredos revelados, lágrimas derramadas a cura de todos os males.
Eram momentos só meus em um devaneio da minha existência.
A testemunha do passar dos anos, de minhas rugas e sobrepeso.
Não me lembro se houve oportunidade de mostrar essa cena para a Victoria, mesmo porque ela não acorda facilmente e o William depois não ia querer mais dormir.
Sei que ela surge como se estreasse em um espetáculo e, vendo as luzes de outros apartamentos apagadas, creio ser a única pessoa a contemplá-la na platéia.