sexta-feira, 15 de julho de 2011

Os olhos do Dudu

No país, a falta da cultura de se consultar médicos especialistas como oftalmologistas e otorrinolaringologias faz com que muitas crianças tenham de conviver na fase adulta com problemas simples que poderiam ter sido solucionados mais cedo.
Meu filho, então com 5 quase de 6 anos foi à sua primeira consulta a um oftalmologista e nele foi diagnosticado amblíope. Seu olho esquerdo não transmitia as informações para o cérebro.
Oito meses depois, com uso correto das lentes e oclusor 24h no olho direito (o olho bom), nos deparamos com sua quase cura.
Faço este alerta de mãe para mãe: não espere o pediatra indicar. Consulte os dois especialistas.
No caso específico dos olhos, o problema é simples, mas quanto antes for diagnosticado, maiores são as chances de reversão.
A médica de meu filho não teve a mesma sorte e hoje vê com apenas um dos olhos completamente.
Não foi fácil. Muito choro para colar o adesivo (oclusor) que era aplicado de forma a cobrir completamente o olho e não na lente dos óculos como estamos acostumados a ver.
O riso da turma na escola, a tristeza por não poder participar de algumas atividades, as perguntas das outras crianças quando saíamos o olhar de horror de alguns adultos imbecís. O cansaço e a irritação constantes por ter de passar por isso.
Eu, escondida, chorava seu sofrimento em lágrimas que não tinham consolo. Ele estava sofrendo e muitas vezes me acusava de lhe causar esta dor.
Eu era firme, aguentava, mas quando ele se afastava, a culpa me torturava e as lágrimas vinham. E eram muitas.
Horas nas recepções dos consultórios, médicos picaretas que não definiam o diagnóstico. Meu tempo acabando, mesmo porque somente até os sete anos pode-se reverter. Depois disso é muito difícil.
Ano de alfabetização. Achei que ele o iria perder. Conformei-me com isso. Saber de sua recuperação era o mais importante para mim, mas lá foi ele.
Uma vontade feroz de aprender, de superar de saber ler e escrever. E ele o fez.
Seu desempenho na escola é brilhante para o mínimo que uma mãe pode classificar.
Ele lê e escreve com maestria e hoje até preparou sua pipoca no microondas sozinho: E S T E L A D O P A R A C I M A...leu ele.
Filho, será que quando você crescer, lendo este texto, vai saber o quanto você foi forte?
William, que todas as vezes que sentir-se derrotado, filho, saiba que você é insuperável, que com apenas seis anos, você venceu um imenso desafio que muitos adultos não teriam coragem de enfrentar.
Teria sido mais fácil se fosse menor, mas com a sua idade, seus amigos malvados, aqueles que você chama de amigos, rindo e excluindo você das brincadeiras...Filho, saiba que todas as suas lágrimas secaram, e que todo seu esforço não foi em vão. Sua visão é para sempre e esses momentos de dor e aflição serão deixados para tráz.
Você tem asas, querido. Asas com os nomes Determinação e Coragem.
São o par que jamais o abandonará.
Amor, mamãe.