quarta-feira, 23 de julho de 2008

As ruas vazias

Sábado, 7h da matina.
Acordei aos sobressaltos. Havia sonhado com minha tia Rose, com câncer e em fase terminal sozinha em Botucatu.
Precisava vê-la. Meu marido, sócio, parceiro e cúmplice, o melhor do planeta, diga-se de passagem, concorda com um sorriso amarelo, mas sempre pronto para me agradar, em me levar para a cidade de infância.

A mala do Dudu estava pronta. Vivi ainda estava em SP com os avós.
Juntei uns trapinhos e fomos. 2h30 de viagem...Marechal Rondon...um horror.
Chegamos por volta das 11h. Segui direto ao cemitério para “visitar” meus avós e tios.

Como é bonito o danado. Tem muita história ali. Pode parecer mórbido, mas adoro passear em cemitérios. Não gosto de enterros, mas de ir ao cemitério.
Olho as lápides e sua arquitetura divina. As datas, fatos históricos e a paz que há nesse lugar.
Anoto umas coisas, vejo outras e, claro, me entristeço. Sinto muita saudade. Sou irremediavelmente nostálgica.

Saio dali e o Dedi pergunta para onde vamos.
Não sei. As ruas estão vazias daqueles que amei. De minha tia Carmo, de meu tio Chaim, de meu amigo Pedro. Não há aonde ir nessa hora.
O tempo passou e a cidade não me recebe com a mesma euforia que antes. Sinto-me só em meio aos 90mil habitantes.
Para mim, as ruas estão dolorosamente vazias.
Eu chegava à cidade e ia direto para a casa da minha tia. Escancarava a porta da sala, jogava a mala em qualquer canto e corria para a cozinha, onde ela certamente estaria preparando os quitutes árabes que mais amava comer.
Ali, a me esperar, sorrindo. Abraços, beijos e só. Ela era única. Sentava-me à cozinha com ela nas tardes preguiçosas do verão e falávamos sobre o passado. Adorava suas histórias e como as contava bem. Ela caprichava nos detalhes. Eu, admirando sua boa memória, me deleitava com tanta informação de sua infância e, claro, de minha mãe também.
“Menininha!”, dizia ela. Que delícia. Quanta saudade.
O pranto invade e é impossível lembrar-me dela sem chorar.
Discutíamos política e ela nos tratava como adultos, embora sobre esse assunto fôssemos totalmente leigos.
Eu a amava como uma terceira mãe. A mãe das férias, das estripulias, da bagunça e da liberdade não vigiada.

Visitei minha tia Rose, vi minha tia Esmeralda, meu tio Fauzo, tia Nice. Minha prima e sua filhinha, mas ainda assim, as ruas estavam vazias.

Saímos da cidade às 3h da tarde. Pude ouvir sua risada, mas tive a certeza que não voltaria ali por muito tempo. Uma certeza muda, reforçada pela sensação das ruas vazias.

terça-feira, 22 de julho de 2008

In the morning light

Ouça essa música e leia o texto abaixo...

Free Willy

Abduzida da casa dos avós em São Paulo onde choramos e fizemos chorar pela partida, Vivi volta para o lar após alguns intermináveis dias de férias.
Teve que voltar por problemas familiares. Não sou carrasco não, viu? Não é que eu quisesse, mas a necessidade obrigava que ela voltasse...
As amigas no prédio (umas 15 ao todo) e mais novos vizinhos que, para minha surpresa são filhos de uma grande e querida amiga que fiz por aqui brincam animadamente no parquinho. E lá estão meus tesouros, tentando se enturmar.
Bolas para cá, bicicleta, correria, risos e...lágrimas.
Minha princesa entra aos prantos.
“Mãe, eu nunca mais vou brincar...”
Eu, claro, sei o motivo. As crianças malvadas dos apartamentos superiores a chamam de Free Willy.
Tento fazer com que ela entenda que a “baleinha” do filme é legal, mas em vão.
Mais lágrimas. Eu a tirei de um universo só dela onde é tratada com o maior amor do mundo onde nem eu consigo alcançar e demonstrar tanto; para isso. A dor da realidade e das piadinhas maldosas. A maldade humana em sua mais cruel face, a da infância, quando estamos sozinhos e tudo o que pedimos aos céus é apoio e compreensão. Uma necessidade visceral de reconhecimento e incentivo.
Abro meus e-mails. Penso.
Ajusto um anúncio que preciso enviar à revista e penso.
Minha vontade é sair aos berros, catar os pirralhos pelo pescoço ou pelo elástico de suas roupas íntimas e estrangular cada um que fez meus lindos olhos verdes verterem-se em lágrimas dolorosas e sofridas. Penso mais.
Recorro aos céus e imploro uma luz.
Placidamente, como se não fosse eu, levanto do escritório e abro a varanda. É...não sou eu, deve ser minha gêmea calma que mora em mim e, contrariando as leis da física, dividimos o mesmo espaço...
“oi meus amores!!!” digo aos pestes que brincam no parquinho. “a titia pode falar com vocês?”
Nessas horas vejo o quanto sou RP. Converso numa boa com os fedelhos, os elogio, agrado e peço para que parem de machucar meu tesouro. A primeira sempre é na boa. Tem que ser.
Como diz minha sábia mãe “pega-se mais moscas com mel que com fel”. Assim fiz.
“tá bom tia” e “é tia, desculpa, você tem razão” e lindos sorrisos banguelas e com fedorentos aparelhos ortodônticos se mostram para mim e sinto que minha fada, pode voltar a voar no parquinho...ela agora está segura. E ela vai. Volta a sorrir e vejo mais um arranhão em sua alma. Não vai mais doer, mas estará eternamente ali. Não posso protegê-la do mundo.
Segura estava em meu ventre, mas inventou de sair...que posso fazer? Tentar amenizar seu lamento...é tudo o que posso fazer. Impedir que cortem suas asas ou que as machuquem demais e a impeçam de voar...

domingo, 20 de julho de 2008

Eu odeio o amor

Odeio amar e ser tão escrava de um amor que é a maior frustração do ser humano.
Como diria Chapplin “é a mais bela das frustrações, pois está acima do que se pode exprimir”
Odeio o sentimento de ausência, a dor e a angústia que ele causa.
As despedidas e a alegria que o amor ceifa em sua mais profunda essência.
Odeio as lágrimas que o amor causa. A imensa dor que não tem consolo, não tem cura, sequer alívio ou anestesia.
Ele corta a alma. Vai ao âmago e destrói implacavelmente.
Eu odeio amar tanto e tantos.
Odeio amar tanto. Odeio, odeio.
O amor é a pior sensação dos mundos. A pior doença, o pior sentimento.
Ele nos toma, nos leva e nos destrói, pois estamos muito abaixo e é imenso seu poder de destruição.
Eu odeio amar, mas amo.
Amo com todas as forças e me corrói tanto sentimento.
Odeio que o amor que sinto, cause tanta dor àqueles que amo.
Odeio que amor que outros por mim sentem, os destrua também.
Não devia existir. Não devíamos nos apegar e amar tanto. Para que? Esse sentimento é masoquista, sádico. Fará-nos sofrer imensamente e por anos. Por vidas encarnados sempre ao seu dispor e a ele subjugados eternamente.
Não suportei suas lágrimas. Para mim, foi a cena mais desesperadora de toda a minha vida.
Jamais suportei ver aqueles que amo sofrer, ainda mais por amor, mas você. É pior ainda.
Senti-me incapaz, frustrada e negligente, odiando muito o dia em que decidi me separar de você e seguir para o interior rumo a uma nova vida, mas destruindo a mim mesma, sem saber o que no futuro sentiria ou causaria por sua ausência.
Me perdoe. Perdoe essa falta de tempo e esse amor imenso que sinto e que tive de dividir com as crianças pois era insuportável carregar sozinha.
Perdoe-me minhas lágrimas e tanto amor. Perdoe tê-lo cativado e ser eternamente responsável por você.
Suas meninas partiram chorando. Vivi sofrendo e eu odiando tanto amor que sinto e tanta dor que lhe causamos.
Perdoe-nos por te amar tanto e termos te privado de uma dose diária, enviando tudo de uma só vez, quando estamos juntos.
Então vi tuas lágrimas. Nunca antes vista e que me desolaram profundamente. Me perdoa.
Perdoa minha impulsividade, por fazer as coisas de forma tão impensada. Saiba que também sofro, e muito por cada uma delas. Hoje vi o quanto elas me custaram e custarão por toda a minha vida.
Hoje vi o quanto minha atitude custou caro e quanto mais caro ela ainda custará.
Então veio o silêncio. Como ele me é insuportável. Desejei muito poder voltar a ser criança e não precisar nunca mais tomar decisões sérias. Só as pequenas como se brincaria de pega-pega ou não ou se pentearia meu cabelo para a esquerda ou para a direita.
Por isso acredito em reencarnação. O amor é grande demais para em só uma vida podermos sentir e demonstrar. Ele é eterno, disso sei, mas acho que nos toma aos poucos, pois sua dose de uma só vê nos mataria.
Prometi, um dia, a mim mesma, jamais me arrepender do que faço e sim do que deixo de fazer, mas hoje vi que as melhores atitudes a se tomar são aquelas que jamais nos afastarão daqueles a quem amamos. Somente dessa forma não nos causarão arrependimentos.
Eu te amo.

Mosquito