terça-feira, 23 de setembro de 2008

Ao vencedor, as batatas

Comecei a semana com aquele gás que sei ter de buscar só os Deuses sabem onde.
Agendei todos, eu disse TODOS os meus compromissos para a manhã. Tudo isso porque a Batatinha está em época de provas e o Batatão tem saído cansadão do Colégio.
Programei para que todos os meus trabalhos que exijam concentração, ou presença fora do escritório fossem feitos na parte da manhã, para que à tarde pudesse estar presente em casa. Fui uma heroína.
Você sabe o que é fazer um cliente acordar mais cedo, porque você o convenceu de recebê-lo em horário incerto, mas para A PARTE DA MANHÃ impreterivelmente? Sabe usar seu poder de persuasão? Sabe os riscos que corre?
Pois é.
Eu, mesmo sabendo de tudo isso, rebolei e virei a agenda.
O que ganhei? Me digam. O que foi que eu ganhei? As batatas.
Pois é. Minha Batata vai ficar amanhã o dia todo na casa da amiguinha para comemorar o aniversário dela e o William tem a festinha do amiguinho no Colégio à tarde, o que o fará sair mais tarde ainda.
Talvez o nome deste post não combine, pois fiquei sem as batatas. A tinha e o tão.
Fiquei.
Sobrei.
Remanejar a agenda agora? Não dá. Meu poder de persuasão é muito forte e meus clientes todos convencidos essa semana...
Dancei.
Ao vencedor, as mandioquinhas.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Victoria todos os dias

Os olhinhos se abrem todos os dias às 6h30.
Enormes cílios que mais parecem ser postiços, tamanha perfeição.
Esfrega-os demoradamente e diz que não que ir para a escola.
Mas vai.
Arruma-se demoradamente e fico ali, vendo-a crescer a olhos vistos e de forma tão rápida que meu coração de mãe dispara.
Penteia os lindos cabelos negros que fazem a perfeição de sua pele e olhos incrivelmente claros. Gestos delicados, mas firmes completam a manhã.
Poucos beijos na mãe. Sinto que serão cada vez mais escassos, diferente do avô que os recebe cada vez mais. Lá vai ela. Linda. Perfumada e maquiada no auge de seus 10 anos, acreditando em tudo e em todos. Com um coração tão puro que poderia ser transparente.
O amor como acessório de uso diário e distribuído em abundância.
A casa fica em silêncio.
Chega a hora de pegá-la na escola.
Despedidas, beijinhos e abraços nas amigas, um aceno tímido aos meninos.
Ela é luz! Não há melhor forma para defini-la que não seja: luz.
Tagarela como foi o dia. Não almoçou porque não come ovos, nem verduras, nem legumes, nem...
Vejo-me nela. Será que eu era assim? Acho que não tão perfeita e amável e adorável e linda, mas uma criança pura de sentimentos e amor.
Quem dera nunca crescesse e ficasse sempre ao meu lado. Sei que o tempo a levará embora, mas enquanto puder, a reterei em meus braços e direi do amor que sinto.
Hoje fez trabalho na casa da amiga e lá ficou toda a tarde. O silêncio dói. Pude até trabalhar...!!!
Preferia ter sido interrompida.
Ela tenta entender meu mundo. Dá até dó. Faz um esforço imenso para compreender meu comportamento, mas em vão.
Queria poder explicar a imensidão de meus atos, mas ela só irá entender quando todo esse processo mãe e filha se iniciar em sua vida...gerando um novo ciclo, de novas manhãs e de mais uma Victoria, todos os dias.

Quedate com Dios

Ela não sabia mais o que fazer.
Seu mundo crescera depressa demais para que os outros a acompanhassem.
Era como se o progresso e a industrialização acomodassem em seu pequeno vilarejo e só ela pudesse compreendê-lo e aceitá-lo.
Eis que ela renasceu como Fênix das cinzas e tomou as rédeas de sua vida.
Abriu os braços para todas as oportunidades, mesmo que lhe gritassem ser perigoso.
Eis que ela se viu no cume da montanha mais alta, abrindo os braços para o vento e expondo seu rosto ao sol, na mais completa sintonia com o universo.
Ela se libertou. Pôde compreender que seguiria para onde os ventos sopravam e não mais para onde as bússolas diziam ser o Norte.
Preferiu acreditar e sorrir, a lamentar e se amuar no canto de sua vila.
Preferiu transpor as fronteiras que mapas nenhum no mundo todo puderam e poderiam desenhar. Seu espírito estava livre de tudo o que a acorrentava.
A caminhada seria longa, mas jamais a intimidaria o fato de cansar-se.
Iniciou sua jornada rumo ao que o coração lhe dizia. Na verdade, uma voz de Mãe Manuela, como música a repetir-lhe nos ouvidos: “quedate com Dios” e foi.
E quedou-se. E foi feliz. Ou seria para sempre, pois a jornada seria eterna. Soube disso quando se libertou. Apenas parou para descansar e quase perdeu o ritmo dos passos, retomados no meio da vida. Dessa vida.