quarta-feira, 9 de março de 2011

A lagarta e o brócolis

Quarta-feira. Metade do dia feriado e a outra metade normalizada depois do Carnaval.
Inicio o almoço cedo, mesmo porque tenho visita externa à tarde.
Decido o que fazer e enquanto vasculho a gaveta de legumes e verduras, acho um delicioso maço de brócolis.
Estou tentando fazer o Will comer de todas as formas, até inventando historinhas pitorescas, mas até o momento: nada.
Saco o pezinho do plástico, corto o elástico e começo, distraidamente a lavar as flores.
Ahhhhhhhhhhhhh!!!!!! Victoriaaaaaaa!!!!!
Uma lagarta nas folhas. Detesto lavar verduras. Na verdade, o que detesto é encontrar criaturas hortifruti nas MINHAS verduras.
Vivi me garante que ela está morta, afinal, estava na geladeira desde segunda.
Continuo, com pavor, a lavar as folhas, segurando-as pelas bordas e encostando o mínimo possível meus dedos na bendita.
Olho para a pobrezinha em cima da pia e decido empurrá-la ralo abaixo. Está morta mesmo, não é? Mas, ao fazer isso, a criatura se mexe.
Ahhhhhhhhhhhhh!!!!!! Victoriaaaaaaa!!!!! Ela está viva!!!!!!!! Que nojo!!!!!!
Olho a pobrezinha, agonizando e fico com dó. E se eu salvá-la, onde colocar? Na minha horta para ela comer tudo? No jardim do prédio... mas ainda estou de pijama...
Bem, talvez seja de uma borboleta. Concluo para criar coragem.
Pego uma folha, acomodo a pequenina e a levo para minha horta. Mesmo que ela coma tudo que tenho plantado lá, isso é um ciclo que me recuso a quebrar. O ciclo da vida.
Ela mal se mexe. Será que meus gritos a traumatizaram?
Juro que não consegui comer o brócolis e somente hoje, não pedi para que pequeno comesse Tb.
A lagarta? Está lá. Já se mexeu e agora descansa à sombra da folha de brócolis que serviu de transporte para eu deixá-la lá.
Tomara. Tomara mesmo que ela seja uma borboleta.

sexta-feira, 4 de março de 2011

O Assalto

Por sorte ou uma imensa proteção dos deuses eu nunca fui assaltada.
Furtada sim. Por uma empregada que levou as poucas, mas estimadas jóias que eu tinha e ainda saiu de vítima e com todos os direitos trabalhistas pagos. Infelizmente nada pude fazer a respeito.
Hoje, saindo da escola, o pequeno esqueceu a varinha que ornamentava sua fantasia de Harry Potter. Dei meia volta, mesmo porque, fiquei com receio que minha obra de arte fosse jogada no lixo depois do feriadão de Carnaval.
Parei o carro na rua lateral e pedi para o guri descer e ir buscar. Enquanto isso aconteceu, observei uma movimentação super estranha em um carro parado a cerca de 50 metros do meu.
Dois motoqueiros, com os capacetes, entravam e saiam do carro.
Quem me conhece sabe que sou super distraída. Não reparo nas coisas, mas tenho protetores e eles são atentos.
Fato. Era um assalto. Os motoqueiros subiram na moto, após abordar o casal e passaram ao lado do meu carro, subindo a rua em rumo incerto.
Fiquei apavorada.
Um assalto na porta da escola!
Eis que o guri chega na sequencia com sua varinha e eu, mais branca que papel, meto o guri no carro e saio.
Ao passar pelo casal, o homem sentado na calçada, chorava muito e dizia: “eu sabia que isso ia acontecer”.
Fico pensando em que mundo estou criando meus filhos. Vivi ainda me pede para ir à pé com os amigos de volta para casa.
Sabe quando isso vai acontecer? Nunca!
Senti-me frustrada em não ter feito nada. A falta de humanismo e nossos medos permitem que estejamos cada dia mais à mercê da má sorte.
Juro que não consegui nem almoçar. Azedou o dia.
O homem, sentado na calçada, chorando, acabou comigo, aliado, é claro, ao medo e à inconformidade de ver a cena na porta de uma escola.
Não sei dizer se era pai de aluno, ou se estava sendo seguido após uma visita ao banco.
Eu podia ter parado o carro, ido lá, falado com eles, mas estava sozinha com o Dudu e muito apavorada.
Podia ter jogado o carro para cima da moto em uma inútil tentativa de render os bandidos, mas e se tomo um tiro e deixo meus pequenos órfãos de mãe? Ou pior, fico tetraplégica dando trabalho até o fim dos dias?
Juro que o que mais está me entristecendo foi não ter feito nada. Nada com nada e, após ter visto tudo, continuei sem fazer NADA. Por medo, por choque, por indignação, seja lá o que for.
Nunca fazemos NADA.
A cada dia nos distanciamos mais dos humanos e nos olhamos como estranhas criaturas que são apenas semelhantes e não da mesma espécie e dignas de nossa solidariedade.
Ao senhor e senhora assaltados: perdoem por ter feito o mesmo que todos que viram a cena. Nada. Perdoem eu estar tão condicionada como meus semelhantes e não ter feito NADA.