terça-feira, 22 de julho de 2008

Free Willy

Abduzida da casa dos avós em São Paulo onde choramos e fizemos chorar pela partida, Vivi volta para o lar após alguns intermináveis dias de férias.
Teve que voltar por problemas familiares. Não sou carrasco não, viu? Não é que eu quisesse, mas a necessidade obrigava que ela voltasse...
As amigas no prédio (umas 15 ao todo) e mais novos vizinhos que, para minha surpresa são filhos de uma grande e querida amiga que fiz por aqui brincam animadamente no parquinho. E lá estão meus tesouros, tentando se enturmar.
Bolas para cá, bicicleta, correria, risos e...lágrimas.
Minha princesa entra aos prantos.
“Mãe, eu nunca mais vou brincar...”
Eu, claro, sei o motivo. As crianças malvadas dos apartamentos superiores a chamam de Free Willy.
Tento fazer com que ela entenda que a “baleinha” do filme é legal, mas em vão.
Mais lágrimas. Eu a tirei de um universo só dela onde é tratada com o maior amor do mundo onde nem eu consigo alcançar e demonstrar tanto; para isso. A dor da realidade e das piadinhas maldosas. A maldade humana em sua mais cruel face, a da infância, quando estamos sozinhos e tudo o que pedimos aos céus é apoio e compreensão. Uma necessidade visceral de reconhecimento e incentivo.
Abro meus e-mails. Penso.
Ajusto um anúncio que preciso enviar à revista e penso.
Minha vontade é sair aos berros, catar os pirralhos pelo pescoço ou pelo elástico de suas roupas íntimas e estrangular cada um que fez meus lindos olhos verdes verterem-se em lágrimas dolorosas e sofridas. Penso mais.
Recorro aos céus e imploro uma luz.
Placidamente, como se não fosse eu, levanto do escritório e abro a varanda. É...não sou eu, deve ser minha gêmea calma que mora em mim e, contrariando as leis da física, dividimos o mesmo espaço...
“oi meus amores!!!” digo aos pestes que brincam no parquinho. “a titia pode falar com vocês?”
Nessas horas vejo o quanto sou RP. Converso numa boa com os fedelhos, os elogio, agrado e peço para que parem de machucar meu tesouro. A primeira sempre é na boa. Tem que ser.
Como diz minha sábia mãe “pega-se mais moscas com mel que com fel”. Assim fiz.
“tá bom tia” e “é tia, desculpa, você tem razão” e lindos sorrisos banguelas e com fedorentos aparelhos ortodônticos se mostram para mim e sinto que minha fada, pode voltar a voar no parquinho...ela agora está segura. E ela vai. Volta a sorrir e vejo mais um arranhão em sua alma. Não vai mais doer, mas estará eternamente ali. Não posso protegê-la do mundo.
Segura estava em meu ventre, mas inventou de sair...que posso fazer? Tentar amenizar seu lamento...é tudo o que posso fazer. Impedir que cortem suas asas ou que as machuquem demais e a impeçam de voar...

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