domingo, 4 de abril de 2010

Desabafo

Este post teve vários títulos. Mudei diversas vezes. Nem sei se deveria ser este que postei, mas...



Momentos importantes e que merecem ser relembrados, serão para sempre. Não importa por onde andemos o que aprontemos. Não importa o que saibamos o que façamos as vidas que vivemos.
Na minha estrada da vida, quando olho para trás vejo sempre este grande homem.
Por vezes a segurar o selim de minha bicicleta, às vezes minhas mãos para mais um passeio de patins.
Outras, estendendo suas mãos para que eu jogasse o chiclete, ou consolasse meu choro em seus ombros, ou ainda segurando o lenço para estancar o sangue do corte.
Vejo os imensos livros de história que hoje leio para meu filho. Horas em frente à TV vendo os nossos vícios: filmes, bons filmes. Vejo a espera, apesar da hora avançada, de me ver chegar da faculdade. Vejo-o sentado no chão da sala brincando comigo e com minha irmã.
O consolo ao rompimento com o namorado. As inúmeras vezes que perdíamos a hora conversando na cozinha.
É muito curioso como isso tudo nunca deixou minha mente. Sim porque minha memória é limitada e não me lembro de muitas coisas, mas sim, me lembro deste grande homem.
Sua paciência ao estudar comigo, suas horas de conversa sem nunca ter me dado uma surra, nem sequer um tapinha, embora muitas vezes tenha merecido, e como mereci.
Muitas coisas eu ainda não entendo, claro. Talvez eu viva a vida toda sem entender. Uma coisa é fato, meus momentos de papo e cumplicidade jamais trocarei por nada.
Apesar dos receios e vergonhas, abria-me muito mais com ele que com minha mãe. Era muito mais fácil. Haveria pelo menos o esforço em tentar entender minhas atitudes, mesmo que as condenasse.
Resgatar tudo isso do fundo da memória na terapia está sendo muito doloroso. Sinto até mesmo em minha voz a diferença imensa entre falar de um e de outro.
E ainda assim, quando tudo isso volta, sempre existe aquela voz interrompendo o que de mais mágico acontece comigo: os raros e esparsos momentos em que posso reviver tudo isso.
Então não entendo. Porque sempre devo dividir e tolerar se não tolero mais? Qual a maldade em poder reviver os meus momentos? Por que isso a incomoda tanto? Por que não me deixa viver com quem a vida toda me deu aquilo que ela me privou?
Como esse homem é importante em minha vida. É mais do que posso explicar e sentir.
A cada despedida é esse drama. E ainda não estendo essa distância. Não tem explicação.
Vejo-o sendo tolhido e meus momentos tornando-se cada vez mais raros. Nossos compromissos avançando na agenda comprometendo os finais de semana e para que?
Para agradá-la. Para que ela não fique falando ou molestando.
Para que? Para que?
Sinto-me como um canário premiado que, enfim, descobriu como abrir a gaiola. Estou tentando assimilar que sim, tenho asas e as posso usar.
Espero o momento certo de voar e espero que eu o faça enquanto eu puder ter a mão deste grande homem a me amparar.
Sim, porque sei que vou voar. Eu posso e eu vou.
Que nada nem ninguém mais se interponha entre mim e minhas asas.
Que ninguém se interponha mais entre mim e minhas lembranças e menos ainda entre os momentos em que posso desfrutar da companhia deste grande homem. Mesmo que não digamos nada. Mesmo que estejamos entretidos com outras coisas. Estamos juntos e isso é o que importa.
Hoje o texto inclui revolta, mas ela é saudável, por isso vai para o “papel”. É uma forma desesperada que tenho de me convencer daquilo que quero fazer e de como desejo agir.
Não me interprete mal, apenas desabafo minhas pequenas frustrações, pois não posso chorar e gritar como o William, apenas escrever e deixar pequenas lágrimas cair no teclado e disfarçar a emoção das crianças.
Final de semana eu volto, mesmo que tenha de ir a pé (que exagero) para mais momentos com você.
Obrigada grande homem, por estar em minha vida e ter escolhido ser meu pai.

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