sábado, 14 de junho de 2008

Acordou no meio da noite sonhando que estava em outro lugar.
Perdeu-se por um instante, tentando identificar os objetos do quarto escuro.
Olhou o relógio, 2h30. O lado vazio da cama. O frio lençol esticado como se esperasse alguém. Alguém que não voltaria mais. Nunca mais.
Levantou-se devagar e pensou se deveria fazer isso e perder completamente o sono.
Sabia que se o fizesse sentar-se-ia na sala de estar aguardaria o amanhecer, sem sono, sem chão, sem vida.
Inerte corpo a esperar os primeiros e furtivos raios da manhã para mais um dia.
Calçou os chinelos. Fazia muito frio.
Chegou à sala de estar ouvindo as vozes de um passado remoto. Vozes de amigos, crianças gritando e o som da chave na porta.
Quantas vezes esperou ali sentada pelo momento da chegada dele do trabalho.
Cansado, contando como foi o dia e a praguejar com as vendas mal sucedidas, ou às vezes alegre e radiante com os elogios recebidos.
O silêncio da espera eterna.
Sentou-se delicadamente no sofá, como se temesse acordar os filhos.
Olhou para as fotos na estante. Anos de felicidade retratados em polaróide.
Imagens nítidas de anos felizes e momentos bons. E como eram bons...
Uma coruja anunciou o meio da noite e ela começou a chorar.
A saudade era uma sensação de eterna dor. Uma tortura sem fim que não tem cura. Não para e não diminui com os anos.

O relógio bateu três da manhã, depois quatro, quatro e meia.
Suas lembranças iam soltas pelo tempo, como se ele realmente não existisse...

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